Vulnerabilidade dos tempos

Os ponteiros continuam a girar, indiferentes, a estes novos tempos que nós julgávamos controlar. A terra continua a girar em torno do sol na sua majestosa volta de 365/6 dias. Nós, é que nos sentimos suspensos. A rodopiar num vácuo. Parece que houve uma inspiração profunda coletiva e assim se ficou, numa espécie de apneia coletiva.

É esta apneia que nos angustia. Não saber quando poderemos voltar a respirar. Com a normalidade que julgávamos que existia.

Somos tão ingratos.

 Barafustávamos com a rotina, com a saturação da existência, com a energia que os dias nos sugavam e, agora… amávamos poder voltar à rotina dos dias. Agora, já queríamos ter todas as horas preenchidas sem um único espaço em branco.

Novos tempos, que nos mostram o quão vulneráveis somos à passagem do tempo. A angústia de não sabermos qual o momento em que deixamos de estar suspensos. Todos queremos um dia, para que possamos dar o grito do Ipiranga que esta guardado. Acredito que todos já tenham os planos traçados para esses novos dias. Esquecemo-nos é que depois disto aprendemos que todos os planos são vulneráveis e são fruo da nossa arrogância em querer controlar um tempo que não é nosso.

O tempo continua a correr, com a sua normalidade. Nós não somos a peça mais importante na dança dos ponteiros. Nós temos é de aprender a dançar com os ponteiros, a perceber quais os passos que devemos dar para que carimbemos os momentos, as horas, os períodos com o que de mais precioso temos.

Nós, os arrogantes do tempo, vivemos este novo tempo, a suplicar que passe rápido. Sem respeitar os seus avanços cronometrados. Já estamos fartos de ter de assumir novas funções e já só desejámos as antigas, aquelas que nos faziam andar com cara de enfado o tempo todo. Já não gostamos de ter tempo para gastar tempo. Não gostamos de nada que temos de fazer no agora. Nunca gostamos do agora. Sempre almejamos o futuro e sempre idealizamos um passado.  Ao agora sempre pedimos que avançasse. Apenas que passe rápido!

Quando o tempo passar, porque ele vai passar, vamos ser outras pessoas. Haverá um antes e um depois deste tempo. Saibamos encaixar todo este desafio, saibamos abraçar esta nova realidade sem a arrogância de que queremos controlar uma variável, que não é nossa, nem nunca foi!

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina.

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária.

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1 comentário em “Vulnerabilidade dos tempos

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