Porque ganham menos as mulheres?

Quando 2020 nos bateu à porta desabou sobre nós um terramoto pandémico que nos fez repensar o quotidiano. Que nos fez olhar para a espuma dos dias de uma outra forma. Ora, se no que nos toca mais diretamente, foi necessário um novo olhar, as questões mais profundas e mais estruturais precisam de continuar a ser discutidas com um renovado olhar: profundo e decisivo.

É estrutural a desigualdade entre homens e mulheres em vários campos da sociedade. Muito há a enfatizar sobre esta diferença! Neste momento, foquemo-nos na famosa diferença salarial.

A mão de obra feminina chegou ao mercado de trabalho em força. Disso já não há dúvidas! Nas sociedades mais desenvolvidas já não há entradas proibidas. Desde a alta finança, à engenharia, medicinas, exército, política… Nada é proibido. As mulheres entraram e escancararam as portas.

Se no mercado laboral estão em força, em muito se deve às universidades, onde estas são donas e senhoras! Desde o século passado que se inverteu a tendência. Há mais mulheres que homens nas universidades. O caminho tem sido traçado e solidificado. Porém, a questão da diferença salarial, mantém-se quase estagnada mesmo depois de ouvirmos vários políticos a enfatizar nos seus discursos “tarefas iguais, salários iguais”.

Vários estudos demonstram que a entrada de homens e mulheres no mercado de trabalho acontece de forma igualitária e a trajetória se mantém sem diferenças de maior nos primeiros anos.

Contudo, há um momento em que as mulheres ficam estagnadas! E já não chegam ao nível seguinte.

A dificuldade de atingir o próximo nível perdendo a corrida para os homens coincide com a maternidade. Com a maternidade a mulher “faz uma pausa” na carreira e isso, na cultura organizacional determina a estagnação de nível. Enquanto o homem não tem de parar, para cuidar do bebé, a mulher tem de parar meses! Melhor, não são apenas meses, o cuidar da criança ainda é uma atividade “quase” exclusivamente feminina. É a mulher que acompanha ao médico, que acompanha o percurso escolar e isso são anos!

Sabendo de antemão desta “condição” a cultura organizacional tende a “apostar” na carreira do homem pois este, sem a “obrigatoriedade” de paragens torna-se um “ativo” mais seguro.

Tudo isto acaba por condicionar a carreira profissional da mulher, deixando-a presa num determinado nível profissional e subsequentemente sem aumento de ganhos salariais. Caso, essa mulher constitua uma família monoparental, a perda de poder económico é bem mais acentuada fazendo com que se crie/alimente um ciclo de pobreza no feminino!

Como podemos contribuir para a diminuição deste gap social?

Com 12 milhões de habitantes, Ruanda, um pequeno país do leste africano é, segundo diversos indicadores, um dos países mais igualitários para as mulheres. Lidera em participação política e tem uma diferença salarial entre homens e mulheres particularmente baixa, mesmo estando em 158º de 171º no ranking de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)! Tal aconteceu como consequência do genocídio da década de 80. Sem a mão de obra masculina o Ruanda teve, por força das circunstâncias, de empoderar as mulheres. Mulheres que na política foram tomando um conjunto de decisões em prol da diminuição da desigualdade, que coloca hoje o país num dos lugares de topo no âmbito da igualdade de género.

A primeira-ministra da Islândia, Katrín Jakobsdóttir, foi eleita em 2017 e é a segunda mulher a ocupar esse cargo na história do país. A Islândia aprovou uma série de leis para reduzir a disparidade salarial entre homens e mulheres, garantir uma representação efetiva de mulheres nos cargos de topo das empresas e assegurar licença-maternidade e paternidade partilhada e paga. Com estas medidas a Islândia prepara-se para estilhaçar os telhados de vidro, que as mulheres ainda sentem nas sociedades desenvolvidas. Desde 2000, pais e mães têm direito a dividir nove meses de licença recebendo 80% do salário. As mães ficam três meses de licença, os pais outros três, e os três meses restantes podem ser partilhados entre os dois.

A medida teve um impacto enorme. Hoje 90% dos pais islandeses tiram licença de paternidade. Desta forma, já não há discriminação na hora de contratar. Tanto pais como mães irão ter de parar na hora da parentalidade. Desta forma, às mulheres és lhe dada a possibilidade de acesso a qualquer cargo, assim como à progressão de carreira ficam a depender do seu mérito e não da sua condição sexual.

São exemplos como estes que nos podem conduzir no caminho da diminuição da desigualdade salarial!

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina.

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária.

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1 comentário em “Porque ganham menos as mulheres?

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