Chegou o vírus que nos vai obrigar a abrandar.

Chegou o vírus que nos vai obrigar a abrandar. A parar. A pensar em todas as nossas acções. Que nos vai obrigar a relembrar o valor do respeito, da solidariedade, da responsabilidade individual e social. Que nos vai obrigar a refletir. A analisar todos os passos. A estar fechados nos nossos casulos. Nas nossas tocas. Com os nossos. A ir rebuscar os tempos em que os pais brincavam com os filhos. Faziam jogos de tabuleiro e metiam a mão na massa. Vai-nos relembrar da sorte que é receber e dar um abraço. Um beijo. Valores que estavam a ficar perdidos. Recuperemos tudo isso então. Juntos. Aprendamos a lição.

Façamos a nossa parte. Cada um de nós é responsável. Não assobiemos para o lado. Descentremo-nos do nosso umbigo. Isto é uma luta de TODOS. O inimigo é matreiro e escorregadio. Esconde-se na invisibilidade mas anda por cá. Não se iludam! Não ponham em risco os vossos, os nossos. Quebremos esta cadeia, juntos, mesmo que com mãos dadas apenas virtualmente. Não entremos em pânico mas tenhamos receio e preocupação. Prudência. Confiemos em quem está a orquestrar esta batalha. Em quem está na linha da frente. A dar o corpo às balas, para que agora possas estar em segurança, na tua casa, com os teus filhos. Faz a tua parte! Não é altura para críticas e para epidemiologistas de bancada. É altura de agir. De cumprir e ser responsável. Mais tarde, aí sim, deveremos em conjunto perceber o que poderia ter sido feito de forma diferente. Estejamos unidos.

Aos que não estão preocupados. Aos que mantém a sua vida sem limitações. Aos que enchem a boca para dizer ”eu não sou grupo de risco”. Aos que enchem os cafés e se passeiam por aí. Espero que não acordem tarde de mais. Que não acordem com uma chamada a dizer que a vossa mãe ou o vosso avô não teve tanta sorte. Já pensaram que vos pode acontecer alguma coisa também? Um acidente. Uma doença. E não terem os meios disponíveis para vos salvar porque as vossas acções não ajudaram a quebrar esta cadeia de transmissão? Não vai deixar de haver acidentes de aviação, enfartes, AVCs…a vida segue, aliada a este vírus. ACORDEM.

Aos que não têm dúvidas e receios, questionem-se. O que se passa com vocês? São os mesmos que mudam de canal quando dão notícias de guerras e refugiados em países distantes? E que alegam que já chega de desgraças?! Seguem a vossa vida como se nada fosse. Está muito distante portanto não é connosco. Egoísmo puro. Para mim são vocês os grandes vírus mortíferos desta sociedade. Ganhem vergonha.  Ponham a mão na consciência.

Sou enfermeira. Vou, como tantos outros, deixar os meus em casa para ir ajudar os outros. Os outros que podem ser os teus. Que podes ser tu. Vou cuidar-me para não trazer nada para casa que possa pôr em risco os meus. Também tenho medo. Mas vou. Cabe-me essa missão. Vou levar com a indignação dos outros quando não compreenderem a limitação de visitas. Ser agredida verbalmente. Faz parte. É o que temos. Portanto, quando estiveres no teu sofá a queixar-te de tédio, lembra-te que muitos não têm essa sorte. Deixa-te de merdas. Ajuda-nos a combater isto. Peço-te.

Respeita-nos. Que te relembres, no tempo certo, de toda a nossa luta anterior. Por um SNS melhor, mais justo, mais equitativo e mais preparado. Tentamos gritar ao país essa necessidade. Há anos. Por melhores condições de trabalho. Ninguém nos ouvia. Talvez agora acordem. Não era só por nós. Era por vocês também. Por todos

Vamos à luta. Juntos. E nós uma vez mais não vos vamos falhar. Lá estaremos. Não nos falhem também.

Há dias que não durmo bem. Tento fazer tudo o que posso. O que está ao meu alcance. Sinto esse peso. Aliei a escrita a esta luta. Vocês conseguem dormir descansados sem fazer a vossa parte?

Vamos mostrar ao mundo que somos um povo consciente, solidário e informado.

Ainda acredito na humanidade. Um abraço (sem mãos) a todos.

Fiquem em casa e lavem as mãos!

Irina

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