Ainda não tenho 30 anos

Ainda não tenho 30 anos, mas já estive em 30 países e já vivi em 4. Já mergulhei com tubarões na Tailândia, caminhei em glaciares na Patagónia, subi de motorizada uma favela do Rio de Janeiro, dormi em comboios pela Europa fora, enfim. Muitas aventuras que não caberiam neste texto – algumas vivi-as sozinha, outras acompanhada. Sempre feliz, mas sempre com um friozinho na barriga.

Mas nenhum friozinho na barriga se há-de alguma vez comparar ao que senti no dia 8 de Agosto de 2015 quando, apenas com um bilhete de ida, me mudei para NYC. Foi a primeira vez que pisei solo americano; trazia a segurança de um contrato assinado e de uma companhia de luxo – outro Português aventureiro pelo mundo, que me roubou o coração e me deu ainda mais asas para voar – e estava a realizar, provavelmente, o maior sonho da minha vida (de então). Ainda assim, estava aterrorizada – chorei o caminho todo desde Dublin, onde vivi até 2015. De ansiedade, de medo, de saudade do que foi e do que ainda viria. Ia sentir saudades dos amigos de Dublin, ia ficar ainda mais longe de Portugal. Mais aterrorizador ainda: ia, pela primeira vez, viver numa cidade imensa, entre milhões de outras pessoas, com provavelmente um milhão de choques culturais diferentes.

E eu estava certa, só não completamente. Nova Iorque é tudo isto, sim, e também é muito mais. Viver nesta cidade enorme, barulhenta, suja, colorida, vibrante, stressante, divertida, aberta e cheia de tudo, tem-me ensinado algumas das melhores lições que já aprendi.

A mais importante foi que todos nós temos uma história que merece ser contada – a diversidade acrescenta valor, dá beleza, torna-nos melhores. E SIM, é possível tantas culturas diferentes viverem em paz no mesmo lugar. E por isso, não importa de onde vens, como te vestes, com quem vives, quem beijas ao acordar – aqui, ninguém vai sequer parar para te olhar, te julgar, te questionar. És tu, podes ser tu, e ao sê-lo és único, mas só mais um. 

Nunca aprendi nada tão bonito e só por isto já valeu a pena.

 

Nota sobre a autora

O meu nome é Ana Jorge – Jorge é nome próprio, sim – porque a minha mãe se chama Ana e o meu pai se chama Jorge. Os nomes deles fazem parte de mim e isso é um dos meus maiores orgulhos. Tenho 29 anos, nasci e cresci em Matosinhos, no Porto, mas neste momento vivo em Nova Iorque. Sonhei desde miúda que havia de ter uma carreira internacional e viver em Manhattan. Aqui estou, mas de sonhar nunca deixarei.

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2 comentários em “Ainda não tenho 30 anos

  1. Estava a ler este texto e viajei nas suas palavras, como se da minha história se tratasse. Tenho 30 anos e nunca saí do mesmo lugar, tenho medo, ou possivelvemente o que me falta é alguém que me puxe. Tenho pena de não ir. Sinto-me bem aqui, mas faz-me falta ir. Como não se pode ter tudo, opto pelo conhecido. Mas fica-me a pena. Parabéns por esta história, eu era capaza de ouvir pessoas todos os dias a contarem as sua vidas. Adoro mesmo!

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