Acreditas na vida depois do amor?

É um luto com um corpo vivo.

É alguém que estava e deixou de estar.

É um lugar vazio. Tu e todos os espaços que el@ ocupava.

É uma perda. E por mais promessas que se façam – quando são feitas – perdemos sempre.

Disfarçada de auto-tune, Cher perguntou “Acreditas na vida depois do amor?”*, e só hoje percebo que isto é muito mais do que uma frase musical.
Há vida, sim. Mesmo nos dias em que achamos que não.

Se é a mesma vida?

Não.

Vai faltar o beijo de boa noite e a festa na barba.

Vai faltar o cheiro entranhado na roupa.

Vai faltar a mão.

Vão faltar os olhos que falavam mesmo quando a boca estava calada.

Vão faltar as pernas entrelaçadas debaixo da manta, no sofá.
Vai faltar o corpo que te conhecia todos os cantos e te fazia gemer, por vezes gritar, de prazer.

Vão faltar as mensagens de bom dia. E as de boa noite.

Vão faltar os sonhos. E isso é o que dói mais.

Sonhar outra vez.

Sonhar tudo de novo.

Porque em todos os sonhos sonhados, o sonho era a dois.

Vais procurar em todo o lado e não vais encontrar. Só na memória. É lá a sua nova casa. E é a única porta aberta para lhe poderes voltar a sentir os braços.

Certo ou errado, vais desejar voltar a passar a noite com el@. Porque foi amor. É.

E tudo o que podes perguntar será “porquê?”. E nem sempre uma questão vem acompanhada de uma resposta.

Porque às vezes não há resposta.

Vais fingir que está tudo bem. Vais procurar validação em todo o lado. Todos vão pensar que superaste tudo “na maior”. Vais estar sempre de sorriso montado até que te vais sentir sozinh@ no meio da multidão e vais perceber que já não existe força para que os cantos da boca subam mais.

E aí vais chorar. Mas da-te a essa liberdade. É tão normal estar triste quanto estar feliz.

E quando perceberes isso, o mais certo é chorares ainda mais. E os dias seguintes tornar-se-ão na aglutinação das coisas pequeninas que te alegram e da coisa gigante que te aperta o coração.

Há que dar espaço a ambos os lados. Mas sê-te fiel. Sempre.

Por muito que te digam “não penses nisso”, ser-te-à indiferente. Portanto pensa. Leva-te à exaustão ao recordares o primeiro encontro, o primeiro beijo, a primeira noite num hotel, a primeira viagem… Quando a roupa se começou a misturar e deixou de ter don@. Quando o quarto se começou a chamar Nosso.

Dá-te por sortud@ por saberes o que é o amor e amar alguém. Quantas e quantas pessoas vivem vidas inteiras sem saber o que é isso?

E a dúvida que surge é; será que vais ser capaz de amar outro alguém?

Sim. É o mais provável. Mesmo que a ideia, de momento, te dê volta à barriga. Mas atenta uma coisa; não se amam pessoas diferentes de maneiras iguais. Será sempre um outro amor. Talvez não o amor da vida, mas o amor para a vida. Ou nenhum dos dois. Talvez te surja um amor sem cognome.

Mas não o forces. Não o procures.

Quanto a quem foi, luta até onde achares que és capaz. Mas nunca mendigues para que gostem de ti.

Amor mendigado sabe a comida gourmet aquecida no microondas.

E se nada fizeres, isso jamais será sinónimo de que a memória te falhou ou o coração deu um passo à frente. Será, por muito que te doa, respeito pelo lugar do outr@.

Se alguém sentir a tua falta, saberá onde te deixou.

Se já não estiveres no mesmo lugar… Aproveita a próxima viagem.

 

*Referência ao single “Believe”, lançado em 1998.

 

Rio de Carvalho

 

 

Partilhe nas Redes Sociais
FacebookTwitterPinterest

4 comentários em “Acreditas na vida depois do amor?

Deixe uma resposta

* Campos obrigatórios