A geração das montanhas

Chamam-nos millennials, geração “Morangos” ou geração da Internet. Somos quase tudo aquilo que querem que nós sejamos. Dizem que a nossa vida foi muito facilitada, mas nem por isso nos sinto mais felizes. É suposto estarmos a atravessar “os melhores anos das nossas vidas”, aqueles aos quais vamos um dia desejar regressar. E talvez isso venha, de facto, a acontecer. Mas para já, quando olho à minha volta, nem sempre vejo isso. Vejo muitas vezes frustração, medo e angústia. Dizem que nos queixamos sem razão. Talvez. 

Somos uma geração que tem ideias, projetos, objetivos, sonhos, mas que nem sempre os leva a sério. Acreditamos e desacreditamos muito facilmente. Mudamos de ideias como quem muda a foto de perfil. Queremos cumprir expectativas que não são as nossas e, muitas vezes, seguimos caminhos que nos são impostos.

Somos a geração que gosta de beber uns copos e parecer sempre “chill”, que é como quem diz “relaxada e descontraída”, mas a mesma que, no fundo, está bem longe dessa realidade. O copo na mão e a música alta talvez sejam a tentativa inconsciente de viver esse estado de espírito.

Somos a geração que vai para o ensino superior porque toda a gente tem de ter um curso, há que seguir a corrente. Somos a geração que tira licenciaturas, mas depois não sabe o que fazer com elas. Estamos cheios de dúvidas, procuramos um propósito para a vida e fazemos disso a missão de todos os dias. Achamos que tudo tem de ser definido já, que toda a nossa existência depende das decisões que temos de tomar no imediato. Achamos que tem de ser sempre tudo preto no branco.

Somos a geração que se esconde atrás do “trendy”, que é como quem diz “daquilo que está na moda, que é badalado”. E já agora, do que faz furor nas redes sociais. Somos a geração que se esconde atrás da vida perfeita de Instagram. Queremos fazer tudo e acabamos por não fazer nada, queremos tanto aproveitar a vida que nos esquecemos de vivê-la. Queremos que cheguem os fins de semana, as férias, as festas, o Natal, mas depois passamos por eles como quem passa pelo feed do Facebook.

Somos a geração de jovens que se sentem perdidos, que choram muitas vezes sozinhos, que têm depressões, problemas de saúde mental, medos, mas que se esconde atrás dos likes, dos posts e dos filtros. Temos centenas de seguidores, mas esquecemo-nos que a amizade se encontra do lado de cá do ecrã. Somos capazes de fazer tudo atrás de um dispositivo, mas temos muita dificuldade em lidar com situações de pressão no dia a dia. Temos medo de ser repreendidos. Somos peritos a manter conversas de horas no WhatsApp, mas temos dificuldades em conversar à volta de uma mesa. Somos a geração que pode trocar mil mensagens com uma pessoa, mas que depois a ignora na rua.

Somos a geração que chora calada, que precisa de sessões de coaching, que precisa de psicólogos, mas que prefere manter a imagem bonita e a fotografia perfeita a admitir que a vida é muito mais do que isso.  E que mesmo com a sua fragilidade e com o lado menos bonito, é bem melhor.

No entanto, também somos a geração que se quer levantar e mover montanhas. E querem saber uma coisa? Tudo isto foi inspirado por uma publicação no Instagram que dizia “somos uma geração de fotos sorridentes e de travesseiros encharcados”. Vamos levantar as cabeças dos travesseiros e mover montanhas. Comecemos pelas interiores.

Marta Pires

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1 comentário em “A geração das montanhas

  1. Iremos mover montanhas…primeiro as nossas e depois as que os outros edificaram para nós! Obrigado pela partilha Marta 🙂

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