White privilege

A primeira cena do filme “The Hate U Give” é uma lição de vida de um pai aos seus filhos. Não me recordo com exatidão, mas basicamente era sobre como reagir à polícia quando fossem abordados por ela. Seria obrigatório colocar as mãos sobre o tablier e explicar sempre passo a passo cada movimento. Tudo isto, para que a polícia não fizesse outras interpretações e disparasse!

Esta foi uma lição que eu não recebi. Ninguém me disse o que tinha de fazer no caso de ser parada pela polícia. E quando o fui, no âmbito das operações STOP, não senti receio algum. Mostrei documentos e segui com a minha vida.

Ora, sendo eu cidadã branca e ainda por cima europeia, em momento algum senti na pele qualquer preconceito relativo à minha aparência.

É um privilégio que eu tenho.

Quando que vejo publicidade eu sinto-me minimamente representada, (não vamos entrar no tema do body shaming) e quando entro numa loja não sou olhada de lado. Eu não acordo com estereótipos em cima de mim nem nunca tive de provar que sou a boa da fita. Sobre mim recai a presunção de inocência!

Há de facto uma força invisível, inconsciente que precisa ser reconhecida. A expressão foi usada pela primeira vez em 1988. O “white privilege”. Claro que tem as suas nuances. Acabei agora mesmo de relatar o meu privilégio e provavelmente imaginou que tenho uma vida de luxo! Nada disso, também tenho a minha desvantagem, também tenho de lutar para conseguir dar passos em frente e, imagine-se também tenho dias em que acho que o mundo conspira todo contra mim, tal como quem me lê. Agora, eu sei, que na hora da partida, eu estava uns passos à frente apenas, apenas e só pela minha cor de pele.

Reconhecer o white privillege não é ser racista. No entanto, ele só existe por causa do racismo e do preconceito que a história foi disseminando. De acordo com o artigo Sociology on Racism de Matthew Clair and Jeffrey S. Denis,  racismo é “individual- and group-level processes and structures that are implicated in the reproduction of racial inequality.” Sendo que é desta base que parte o preconceito, mais consciente ou mais inconsciente. Ele existe. Demostra-se na mudança de passeio quando este é partilhado com um grupo de indivíduos de dor. Quando um polícia dispara mais rapidamente numa pessoa desarmada se esta for de cor. Ou quando numa cena de violência entre duas pessoas se deduz que a pessoa de cor é culpada.

Agora quando se refere ao privilégio branco sente-se algum desconforto. O primeiro é ser tratado pela própria raça! Numa cena com dois homens de raças diferentes, a descrição é: dois homens, sendo um de cor. Depois sente que nunca foi privilegiado. Não é milionário e o estado nem lhe dá subsídios. Só dá aos outros, certo?

O termo não anula as lutas individuais. Claro, que todos tivemos de lutar para chegar onde estamos, claro que ninguém tem nada de mão beijada. Agora, importa reconhecer que ser-se branco significa ter mais acesso aos recursos e ao poder do que pessoas de cor que estão exatamente na mesma posição. E que provavelmente precisaremos de séculos para diluir essa linha e criar uma igualdade real.

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina.

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária.

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