Viagens do Elefante: Tailândia, dia 7

 
 

Hoje o texto é levezinho e tem como prioridade o estômago. Depois do nosso encontro com os Elefantes, decidimos tirar umas horas para descansar. Pode parecer-vos estranha esta declaração mas a verdade é que a vida em reportagem é fabulosa – não nos queixamos – mas também dura, acreditem.
São muitas horas a escrever e a editar as fotografias tentando com empenho e concentração absoluta que o resultado final faça justiça a tudo o que vivemos e sentimos. E tudo o que vivemos e sentimos tem sido intenso – vejamos o exemplo de ontem, no encontro com os elefantes que nos deixou a transbordar de tudo – e também física e emocionalmente exaustas. Por isso hoje partilhamos convosco algumas considerações mais gerais e que nos parecem interessantes para quem esteja a fazer esta viagem e também – tcharan! – uma das maiores revelações desta viagem: a maravilhosa gastronomia Thai, seguramente a melhor que esta boquita de 42 aninhos teve o privilégio de experimentar na vida. Mas comecemos pelas considerações gerais.

Um dos meus “desgostos” desta viagem é não conseguir estabelecer tanto contacto e diálogo com a população Thai como gostaria. Não me interpretem mal, comunica-se, mas apenas por gestos e palavras em inglês muito básico. Não se pode sequer construir frases, não funciona. Se queremos ir a uma ilha, por exemplo, dizemos: island, boat, money, para conseguirmos obter a resposta necessária.

Eu que gosto de me sentar e conversar mais profundamente com as populações dos lugares para onde viajo, ainda não consegui, por aqui, ter esse momento – apesar de várias tentativas hilariantes – porque os tailandeses não entendem o inglês e só sabem dar respostas objectivas às perguntas mais habituais dos visitantes. Uma conversa mais pessoal, demorada, é totalmente impossível. Por isso, aqui vai o conselho: comprem um cartão de internet sem limite (explico tudo no primeiro texto) porque vão precisar muita vezes do Google Translate para comunicar, nomeadamente se quiserem escolher as vossas refeições – a variedade é imensa. E se viajam com alguém com dieta especial, alergias ou Vegan, como a minha companheira de aventura, terão alguma dificuldade em explicar o que desejam sem essa preciosa ferramenta tecnológica. Aliás e em nota paralela, a vida para os vegan não é muito fácil neste país…a gastronomia é deliciosa mas, por norma mesmo um bom prato de legumes ao vapor, vem sempre acompanhado de frango, peixe, leite, marisco ou ovos.

Outra aplicação fundamental a descarregar no telefone é um conversor de moeda. Nós usámos este para não estarmos sempre a fazer contas de cabeça.

Têm sido muitas as pessoas a perguntar-nos se a Tailândia é um país seguro para duas mulheres viajarem sozinhas. Definitivamente, é. Não sentimos – nem por um segundo – qualquer insegurança nesta nossa viagem. Andámos quilómetros na rua de dia e de noite, tanto em Bangkok como em Krabi, muitas vezes fora dos percursos turísticos, sempre sem guia e tantas vezes à deriva, sem plano prévio. Agora que penso nisso com seriedade, é extraordinário. Não devia ser… mas é. Não há um olhar ameaçador ou intrusivo, lascivo, zero. Das poucas vezes que nos sentimos incomodadas com abordagens menos próprias, partiram, voilá – de turistas ocidentais. Da parte dos homens Thai o respeito é absoluto e isso reforça e muito, a sensação de segurança.

Atenção ao fazer a mala: o tempo quente e húmido da estação seca – Inverno – onde a temperatura ronda sempre os 30°- pede roupas muito leves, chinelos, fatos de banho, t-shirts, calções e claro, uma mochila confortável e impermeável (no caso de levarem câmaras de filmar e fotografar). Também é muito útil uma daquelas bolsas impermeáveis para levar o telemóvel, é que, de quando em vez, cai uma chuvada forte – que sabe lindamente e se dissipa em minutos – mas que pode danificar o material tecnológico se não estiver devidamente protegido. Já para não falar das constantes viagens de barco saltando, literalmente de ilha em ilha com a água sempre por perto.

Creme protector solar – mesmo quando está enevoado, o sol queima muito – e repelente de mosquitos sendo que eu, que me costumo passar com mosquitos, quase não tenho dado por eles. Achei que ia ser muito pior!

As mulheres não podem esquecer-se de levar calças – ganga nunca, assam lá dentro! – largas, de tecidos frescos e lenços para proteger os ombros – senão ficam à porta dos templos, não nos deixam entrar. Maquilhagem, que nem vos passe pela cabeça… com a quantidade de humidade no ar, arriscamos ficar com cara de palhaço rico.

E agora vamos à comidinha – transcendente – que se serve neste país. Eu e Joana experimentámos literalmente tudo, menos insectos. Bom, eu experimentei mais coisas do que a Joana porque ela, sendo, como já vos disse, vegan, cumpriu à risca a sua dieta alimentar. Mas ambas comemos sem qualquer receio a deliciosa street food que existe em qualquer canto deste país. Evidentemente que, para um ocidental, o primeiro impacto com estas bancas de comida, montadas na rua, em que tudo é feito à nossa frente em condições que faria a ASAE ter 20 ataques de pânico, é de estranheza. Muita gente nos agoirou de possibilidade de caganeiras e males variados. Nada, nem uma aziazita para contar a história. Mas claro, pessoa questiona-se se vai ser capaz de ultrapassar o receio e experimentar aquelas iguarias. Esqueçam, não vale a pena. Impossível de resistir ao cheiro a especiarias exóticas, às cores dos legumes e das frutas e depois – por todos os deuses – a explosão de sabores na boca – a surpresa e estupefação com a facilidade com que, ali na rua, sacam um prato digno de um chef, não só no sabor mas também na apresentação (no caso das sopas, uma beleza, sejam de peixe, frango ou marisco, o gengibre, o anis, a frescura dos ingredientes, é da pessoa se mandar para o chão a chorar por mais).

Quando chegámos a Bangkok, depois de uma visita ao Palácio do Rei e a caminho do barco que nos levaria ao próximo destino, experimentámos uns bolinhos – na altura não sabíamos o nome – que estavam a ser vendidos por uma senhora na rua (claro). Ela vertia leite de côco, água açucarada, leite de arroz, côco ralado, numas formas pequeninas e escaldantes e, quando a massa começava a tostar ligeiramente, retirava os bolinhos para um saco de papel.

Bom, que vos posso dizer? Nunca provei nada que me impressionasse tanto. Que absoluta maravilha. A Joana, sôfrega, até queimou a língua pois humanamente era impossível não devorar avidamente aquela delícia.

O barco seguiu, perdemos o rasto à senhora e andámos, literalmente todos os dias, enquanto passeávamos pelas ruas de Bangkok e mais tarde já em Aonang, a olhar sempre pelo canto do olho para ver se descobríamos “os nossos bolinhos” à venda mais uma vez. Finalmente, em Ao Namg, o momento aconteceu. Parecíamos crianças aos pulos paradas à frente da banca de outra igualmente hábil senhora que trabalhava atarefada no meio das forminhas, agora a rir-se do nosso descontrolo.

E, assim, com uma caixa de 8 Khanom Krok (é este o nome do tesouro, doce tradicional Thai mas nem por isso fácil de encontrar) que pagámos com uma nota de 20 baths (53 cêntimos!) sentámo-nos na praia a ver o pôr-do-sol e a engolir um bolo atrás do outro, felicíssimas.

A comida em toda a Tailândia é muito barata. Um jantar com cerveja ou vinho, sopa, sobremesa, marisco, num restaurante com vista para o mar, dificilmente ultrapassa os 10 euros – nas zonas mais turísticas. Na rua, uma sopa sofisticada não chega a um euro, prato principal no máximo 2 euros, isto é o êxtase para qualquer ocidental habituado a comer e calar, tantas vezes mal e por preços descabidos.

Amanhã vamos ao Tiger Temple (o templo mais importante de Krabi, situado no cume de uma das montanhas mais altas da região). Reza a lenda que lá viveu um tigre gigante… mas amanhã contamo-vos toda esta história que tem o seu quê de maravilhoso, sacrificial e de triste também.

Até amanhã!

 
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Texto Rita Ferro Rodrigues
Fotografias Joana Meneses
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4 comentários em “Viagens do Elefante: Tailândia, dia 7

  1. Gostei muito do seu post, vou acompanhar o seu blog/site.
    Este tipo de conteúdo tem me ajudado muito no desenvolvimento pessoal.
    Obrigado
    Manuela Silva

  2. Como nos habitou excelente texto, transporta-nos a lugares incríveis. Obrigada às duas por um trabalho tão cuidado e feito também com o coração!! Deus vos abençoe e o Universo vos proteja ? beijinhos.

  3. Se não tivesse filhos em idade escolar e não estivessemos em tempo de aulas até podia pensar em estar tantos dias a demitir-me da minha função de pai

  4. Obrigada pela partilha,tenho estado a seguir a sua viagem,tudo muito bom,fiquei emocionada com os elefantes.beijinhos e continue sempre linda e feliz

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