Um estado policial não é o normal!

Ser neta do Sr. 25 de abril num país pacato retira-me à partida qualquer mérito na minha luta pela liberdade. Porém, sinto que esta é uma luta diária para todos nós, os cidadãos do mundo, e para a qual não podemos baixar os braços.

Temos de estar sempre alerta a cada movimentação que mexa com este valor máximo.

Quando a pandemia entrou nas nossas vidas, todos nós, mesmo concordando com os motivos sentimos o peso de perder a liberdade do quotidiano. Creio que nós, os filhos e os netos do 25 de abril, nunca tínhamos sentido tal na pele.

Sempre demos por garantidas muitas coisas…

Quando em março e abril me mandavam parar e perguntavam onde ia e que justificação tinha para o fazer (estava na linha da frente) sentia um calafrio na espinha. Antes de mais falo de zona de privilégio, eu sei, mas, deu para desenvolver a um outro nível, o lugar de empatia com outros. Nem todos têm liberdade de movimentos como eu sempre tive nos últimos 30 anos. Nem todos se podem pronunciar como eu sempre pude desde que nasci!

Percebi o que os filmes, documentários e séries mostram/enfatizam sobre a ânsia, o pânico que é passar por postos de controlo.

Nunca, como em 2020, me senti tão acérrima na luta pela liberdade. Nunca como agora, estive tão atenta a esta causa. Às pequenas subtilezas que nos podem beliscar um valor inviolável. Temos a obrigação de estar atentos a este valor que nos foi depositado no colo. Quando se trata da existência livre, nenhuma lei nos pode condicionar. Nenhum estado pode fazer uso do argumento da “máxima da segurança ou da máxima proteção” para nos asfixiar, para nos retirar a liberdade. Só teremos segurança e proteção se formos livres no acesso à informação e às escolhas.

Quem circulou no estado de emergência sentiu na pele “uma amostra” de um estado policial. Sim, tudo por motivos válidos. Sim, tudo por uma causa maior. Porém sentimos! Não havia metralhadoras, nem tanques na estrada, mas havia autoridade a perguntar qual era no nosso próximo passo e só isso já foi sufocante!

Que se lute sempre por um valor que nunca está fechado!

Há muito caminho a percorrer para solidificar a liberdade no mundo. Que saibamos levá-lo a outros níveis e que tenhamos a força para nunca sucumbir a um estado policial, por muito sedutor que isso possa parecer. Com a suposta segurança que se oferece retira-se um cem número de possibilidades de escolha. Quando se determina que uns valem mais que outros, estamos a assumir que há cidadãos de primeira e outros de segunda. Na categoria desses “outros” escolhidos com base num critério duvidoso podemos vir a estar nós ou os nossos.

Cabe-nos a nós deixar um legado de liberdade, respeito e tolerância. Que nunca cedemos a tentações que nos retirem essa premissa essencial à existência Humana.

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina.

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária.

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