This (Is)real!

 

Gosto de destinos pouco palmilhados, atrai-me o que me é desconhecido, desafia-me o improvável. Foi este o mote que lançou os dados para mais uma incursão pelo Médio Oriente de paleta árida, desconcertantes paladares e coexistências improváveis.

Foi no dia 01 de Junho de 2018 que pisei a Terra Prometida, que me predispus a abandonar preconceitos e a usufruir da experiência sensorial que me invadiria os sentidos. O conflito israelo-palestiniano tolda a perceção que o Ocidente detém sobre aqueles territórios e inibe, em virtude de convicções políticas e humanitárias, de ver mais alguém do Sionismo e do seu porta bandeira – “A land whithout a people for a people without a land”.

Tel Aviv conquistou-me pelo seu laissez faire laissez passer, pela sua rebeldia de contrastes arquitetónicos e coexistência de etnias, crenças e gentes. Tel Aviv tem uma Aura especial, uma leveza que coexiste com a herança histórica, numa simbiose perfeita de quem alcança o melhor de dois mundos, numa urbanidade de quem soube o momento certo de desacelerar os projetos de massificação por forma a evitar as dores da inevitável descaraterização.

Reconheci naqueles que reclamam uma nação, uma enorme vontade de ser, um patriotismo justificado pela necessidade de um sentimento de pertença, uma ode a costumes e tradições que buscam identidade. Pisa-se uma linha ténue entre aquele que é o conservadorismo de quem se quer preservar, espelhado na militarização do seu povo, e o respeito e abertura à diferença típicos de quem outrora viveu de perto a perseguição.

Jerusalém, berço das principais religiões monoteístas, converte qualquer descrente, guiando-nos pelo seu Souk entre ruelas obscuras que nos conduzem ao encontro mais profundo com a essência da espiritualidade e da religião.  Nem o mais Ateu dos mortais consegue ficar indiferente ao simbolismo que esta cidade transporta, aos cânticos e preces que ecoam junto ao muro das lamentações, à purificação materializada em lágrimas que marcam as recordações de todos aqueles que por ali passaram.

É inevitável recordar o Holocausto enquanto acontecimento que moldou o mundo em geral, e Israel em particular, estando sediado em Jerusalém um dos museus que mais informação agrega sobre o massacre que sacou a vida a milhões em nome da (conjetural) perfeição. A emoção toma-nos conta dos sentidos, conduzindo-nos pela crueldade dos factos e recordando-nos da perversão humana e do poder da manipulação. 

E se dúvidas existissem, a verdade é que também em terras enfermas brotam frutos, e também sobre tumulto político e militar se formam gentes, se alimenta uma nação e se ensina tolerância. De Israel trago as suas gentes, os sorrisos abertos de quem nos abre a porta de casa, de quem nos guia pelo seu mundo e nos mostra que há mais Israel para além da frieza humanitária, da militarização e da manta de retalhos territorial. And this, this (is)real, pelo menos, naquela que é a minha verdade. 

 

Nota sobre a autora

Ana Rita Ferreira, 29 anos, jurista de profissão e apaixonada por genética. Há alguns anos que decidi IR, na expectativa de me ir reencontrando entre chegadas e despedidas, neste samba que é vida.

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