The Marvelous Mrs. Maisel

Com uma quarta temporada no horizonte, prevista para o final do ano, “The Marvelous Mrs. Maisel” é uma comédia inteligente que nos conta a história de Midge Maisel (Rachel Brosnahan), uma dona de casa americana dos anos 50, casada, com dois filhos e uma boa casa em Nova Iorque, que vê a sua vida virada do avesso quando se apercebe que tem um talento para a comédia stand-up. Em segredo, começa a atuar no clube onde o marido tentava a sua sorte como comediante, mas falhava. Algo que para Midge começou como uma maneira de se libertar e desabafar das agruras da vida, rapidamente se tornou no seu sonho. Susie (Alex Borstein) vê imediatamente em Midge um talento nato e torna-se sua agente, tentando transformar os desabafos numa carreira.

Contando já com três temporadas e 19 prémios, dos quais se destacam 8 Emmys, “The Marvelous Mrs. Maisel”, é sem dúvida uma série de conforto. Criada por Amy Sherman-Palladino, a série apresenta inúmeras parecenças com outra das suas séries mais conhecidas e adoradas, Gilmore Girls. Ambas são encabeçadas por personagens femininas encantadoras, cujo charme, bom humor e inteligência nas palavras as salva e desculpa na maior parte das situações. A Midge de Mrs. Maisel e a Lorelai de Gilmore Girls são mulheres que vêm de meios privilegiados, com pais rígidos e um pouco mimadas, mas lutadoras. Se há algo que passa claramente de Lorelai para Midge são os diálogos rápidos, quase cantados, perspicazes e carregados de humor. Se Lorelai encontrava na filha Rory a correspondente das suas falas aceleradas, Midge encontra a sua recetora em Susie, criando momentos de cómicos desacordos amigáveis. Susie, uma pobre mulher que todos confundem por homem, é em tudo diferente de Midge e é a protagonista de alguns dos momentos mais engraçados da série. É também Susie a personagem que talvez demonstre maior crescimento ao longo das três temporadas, especialmente na terceira.

Apesar de Midge Maisel não se basear em nenhuma pessoa real, é o retrato de muitas mulheres que tentaram a sua sorte no mundo da comédia, um mundo que ainda hoje é predominantemente de homens. Com dificuldades em ser levada a sério, mas ganhando o coração e as risadas de todos com a sua competência e capacidade de improviso, que nem sempre corre bem, tem de enfrentar tiradas como “as mulheres não são engraçadas” ou a constante relutância dos pais em aceitarem ou compreenderem o facto de a filha querer trabalhar e ter uma carreira, recusando casamentos promissores que a podem sustentar. Midge tem de ultrapassar as dúvidas que os outros têm dela e as que ela tem de si própria, com momentos de fraqueza, mas também de confiança inabalável. Sempre com Susie do seu lado e com o apoio do lendário e real comediante Lenny Bruce (Luke Kirby), um amigo que talvez possa ser algo mais, Midge vai subindo as escadas que a levam ao sucesso e a afastam da sua zona de conforto, o Upper West Side, acabando sempre por lá voltar.

Com a sua dose de feminismo, “The Marvelous Mrs. Maisel” podia abordar mais a fundo o tema em questão. Da mesma maneira, as diferenças raciais dos anos 50 e 60 no Estados Unidos têm sido, até agora, tratadas superficialmente e embora esse possa não ser o tema que os criadores pretendem focar, parece ser necessário abordar minimamente.

Como tramas paralelas, o foco vai para os pais de Midge e do seu marido Joel. Ambas são famílias ricas e judaicas, por vezes estereotipadas, no caso dos pais de Joel. Os pais de Midge, Abe e Rose, passam por várias crises existenciais que nos levam a Paris e à Florida, ao encontro da filha. Apesar de estes momentos não darem grande desenvolvimento à história, são situações mágicas, caricatas e certamente divertidas. Magia é o que não falta a esta série. Quer seja pelos bonitos e extremamente bem filmados planos e cenas, pelas encantadoras ruas de Paris, pelas montanhas Catskills onde as famílias passam férias, pelos deslumbrantes, elegantes e coloridos vestidos de Midge, ou pela banda sonora, não é difícil o espectador ser transportado para a época, que por vezes pode parecer demasiado perfeita.

Cada episódio é recheado de acontecimentos que lentamente nos levam a alguma reviravolta ou problema de maior escala que normalmente só aparece no fim da temporada.

Apesar de tudo, “The Marvelous Mrs. Maisel” é uma série que nos traz felicidade e conforto, que nos apetece rever e que nos arranca boas gargalhadas. Não sendo perfeita, como nenhuma série é, é sem dúvida uma alegria e um mundo para o qual podemos e queremos escapar. Uma série que seguramente vale a pena ver e deixarmo-nos levar pelo enredo e pela beleza que muitas vezes não encontramos no mundo real. E que a Midge nos possa inspirar para seguirmos os nossos sonhos, mesmo que sejam difíceis, nunca feitos e incompreendidos pelos que nos rodeiam. Mrs. Maisel, é certamente maravilhosa.

Maria Inês Marques

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