Temporariamente!

Quando olha em volta sente-se vazia de sentido. Tudo ao seu redor não lhe faz as habituais cócegas na alma. Está tudo desprovido de sentido. O chá que beberica não lhe sabe a casa.

Sabe-se agradecida por ter o chá e o teto. Contudo, sente-se entristecida por não ser o seu chá e a sua casa! Há momentos assim…

Precisamos de ter um sentido de pertença para o sabor da vida descer garganta abaixo e fazer sorrir a alma. Em bom rigor, ninguém sabe bem se a alma está no fundo da garganta. Sabe-se, de senso comum, que muitas vezes o que empurramos goela abaixo, influencia a alma. Quantas lágrimas engolidas deixaram a alma negra como a felugem das chaminés de antigamente? Quantas vezes a última lambidela de gelado à beira-mar, fizeram a alma sorrir?

Bebericou o chá na varanda, enquanto via a vida lá em baixo a acontecer. Apetecia-lhe descer e juntar-se à multidão que corre sabendo por onde vai. Mas ela tem de estar na varanda a viver temporariamente até tudo se alinhar. Depois, de tudo alinhado vai lançar-se furiosamente. Agora, vive apenas a ânsia de ter de estar retida e parada.

Vive nos entretantos. No espaço vazio da não pertença. Procura sentido nas rotinas que apesar de não serem novas são desprovidas de alento. Nada lhe afaga a alma. Nada a faz lançar-se furiosamente. Nada a faz dar uma trinca gulosa. Reserva-se inteira e completa para a nova fase. Tenta manter-se imaculada como se de um trato se tratasse.

Tem o plano traçado.

Para não trair o plano reserva-se nesta rotina temporária. Na angústia de ser apenas um hiato de tempo até chegar a outro ponto certo. Um ponto sem ligação. Isso é viver temporariamente numa existência morna, como o chá que está na caneca e lhe vai descendo pela garganta sem lhe alimentar a alma. Sempre a alma.

Ela sabe que é temporariamente….

Quanto tempo se vive temporariamente?

Por vezes, toda a vida. Outras, é mesmo o tempo necessário.

Temos mesmo de viver um tempo temporário, ou devemos agarrar cada tempo e vivê-lo com a intensidade que cada tempo necessita?

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina.

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária.

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