Sou o Eduardo, o teu bisneto

A minha avó tem 99 anos. Quando a visitamos, nunca sabemos muito bem se vai ou não lembrar-se de nós. É um exercício doloroso, não vos minto. O meu filho não se intimida perante a ausência (aparente)  da Bisa mas mais do que isso, quando a visita, está sempre a tentar muito, de uma forma comovente, falar com ela para que consiga ajudá-la a encontrar a estrada da memória que a levará eventualmente, a ele… e a nós.

Na mais recente visita, pegou-lhe nas mãos e disse-lhe de forma firme e pausada: “sou o Eduardo, o teu bisneto”.

Ela levantou os olhos e respondeu-lhe: “Eduardo Luís… há-de ser o teu avô” (referindo-se ao meu pai, Eduardo Luís, seu filho, avô do Duda).

O Eduardo bisneto ficou muito feliz: “Boa Bisavó! Muito Bem!”

E ela sorriu. E naquele sorriso, ela, como eu a vejo, plena de si, a minha querida avó.

Foi o momento mais bonito do meu dia e escrevo-o aqui para nunca mais me esquecer (e se acontecer esquecer-me, que tenha também eu a ternura de um Duda de 7 anos a ajudar-me a reencontrar-me a mim e aos meus, nem que seja pelos breves segundos que dura um único sorriso lúcido, feliz, absolutamente presente).

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