Isto é o da(s) Joana(s)

Quando tive a ideia de escrever sobre oito mulheres que me inspiram, a propósito do dia 8 de Março (Dia Internacional da Mulher), comecei mentalmente a fazer uma lista sobre quem eu queria dedicar umas palavrinhas, já que elas me/nos dedicam tanto de si. Uma, duas, três… às tantas, cheguei à conclusão que eram todas JOANAS! Porque afinal #somostodasjoanas.

1 Joana Marques
Chamei-lhe a “Cristina Ferreira da rádio”, porque protagonizou a transferência mais relevante ao nível das ondas hertzianas dos últimos tempos – e também porque foi quase na mesma altura da outra, da televisão: passou de ser “extremamente desagradável” na Antena 3, para o ser na Rádio Renascença. Um sinal de como deixou de ser vista como uma miúda engraçadita, para passar a ser reconhecida como uma Mulher com um humor inteligente e trabalhoso. Sim, porque dissecar uma conferência de imprensa de qualquer uma figura do futebol português ou autopsiar a estreia de um programa de trash tv dá trabalho! Com uma carreira cheia de altos e baixos, ela é a melhor resposta à aborrecida pergunta “porque é que não há mulheres no humor?” Há sim! É só estar um bocadinho atento e, como em tantas outras áreas, dar oportunidade de elas brilharem. E se Joana Marques brilha! Seja de manhã cedo, numa telefonia perto de si, seja numa equipa de guionistas craques que trabalha com aqueles que são, para a nossa geração (minha e dela), a maior referência do humor português, os Gato Fedorento – tudo “Gente que Não Sabe Estar”, no fundo, o brilho dela só tem uma cor: azul e branco. Enfim, ninguém é perfeito…
Se não gostam de humor irónico, sarcástico, às vezes a roçar o negro (!) não ouçam a rúbrica dela, às 8h ou às 9h da manhã, todos os dias úteis. Infelizmente, eu só não ouço a essas horas porque sou muito fiel às manhãs de outra rádio mais comercial, mas benditos sejam os agregadores de podcasts!

2 Joana Pais de Brito
Já que estamos no ramo do humor, deixem-me falar-vos de uma pequena – de estatura, não de talento – que me chamou a atenção recentemente. Na verdade, eu já a conhecia, mas a sua imitação de Cristina Ferreira (sim, é a segunda vez que a refiro e só vamos na segunda Joana… um dia alongar-me-ei na opinião que tenho sobre a Cristina, mas não agora, porque ela não se chama Joana e estragava-me o texto) veio relembrar-me do quão talentosa Joana Pais de Brito é. É verdade que quem tem a sorte de frequentar a escola Herman José tem meio caminho andado para o sucesso, mas o trabalho e o talento, nas respetivas medidas, têm de lá estar sempre. Joana é inspiradora, porque ela é a personificação do “nunca é tarde para seguir os nossos sonhos”. Apesar de ter tirado um curso de terapeuta ocupacional e trabalhado na área em que se formou, Joana desistiu dessa vida confortável e seguiu o seu sonho, indo estudar representação para Nova Iorque. E aos 28 anos, uma idade que, nestas andanças do showbizz, é considerada “já não se ir para nova”, sobretudo, quando se é mulher, começou a dar os primeiros passos como atriz. Está mais associada ao humor por ter participado em programas como “Camada de Nervos” do Canal Q ou Donos Disto Tudo, da RTP1, onde as suas capacidades de imitação foram merecidamente elogiadas, tanto que o Mestre a chamou para fazer uma perninha (no) Cá por Casa. Mas uma atriz não vive só de humor. Mesmo as que são mais ligadas a ele, anseiam por fazer drama. É a versatilidade a falar mais alto, dizem, e Joana não é exceção. Aliás, a sua prestação na série “Madre Paula”, da RTP1 é um bom exemplo dessa polivalência. Vamos poder vê-la, brevemente, em palco integrando o elenco da peça “Monólogos da Vagina”, ao lado de Júlia Pinheiro e Paula Neves, de 21 de Março a 2 de Junho, no Teatro Armando Cortez, em Lisboa.
Perdeu-se uma terapeuta ocupacional, mas ganhou-se uma atriz de mão cheia! O segredo? Já não é segredo nenhum, é o maior mantra de todos: nunca desistir dos sonhos e lutar sempre por eles!

3 Joana Carneiro
Quantas profissões têm o feminino mais bonito? Todas. Mas o feminino de maestro é ainda mais bonito. E Joana Carneiro para além de carregar consigo esse substantivo feminino, ainda o faz de forma exímia. Joana formou-se em Direção de Orquestra, na Academia Nacional Superior de Orquestra. Concluiu o seu Mestrado em Direção de Orquestra pela Universidade de Northwestern e prosseguiu estudos de Doutoramento na Universidade de Michigan. Desde então, passou pelas mais prestigiadas Orquestras Sinfónicas do mundo: para além de Berkeley, da qual se tornou Diretora Musical, tem concertos ainda com as Orquestras Sinfónicas de Toronto, Gothenburg, Gävle, Malmö, Sydney, Nova Zelândia e a Orquestra Nacional de Espanha. Estreou-se ainda com as orquestras filarmónicas da Radio France e da Royal Stockholm e com a Florida Orchestra. Joana Carneiro é Maestrina Convidada da Orquestra Gulbenkian e Diretora Artística do Estágio Gulbenkian para Orquestra (Orquestra de Jovens) da Fundação Calouste Gulbenkian, para além de ser Maestrina Titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa. Por tudo isto e muito mais, o Presidente da República, Jorge Sampaio, agraciou-a, em 2004, com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique. Podia pensar-se que Joana viveria só da música (e viveria bem, digo eu). Mas o ano passado foi mãe do seu quarto filho. Quatro filhos (sendo que três são trigémeos) e uma carreira de sucesso: sim, é possível. Chama-se Joana Carneiro e é um exemplo!

4 Joana Espadinha
Há muito tempo que queria escrever sobre esta Joana. Esta Joana que tem um disco sublime. Diz ela que “o material tem sempre razão”. E não é que tem? Quando o material é de boa qualidade como é este segundo disco a solo, a razão acompanha o coração.
Ao mesmo tempo que era aluna de Direito, Joana Espadinha (que não tem nada a ver com o Vítor) era também estudante de Jazz no Hot Clube de Lisboa. Estava-se mesmo a ver onde é que isto ia dar: quando num prato da balança está o Direito, a balança cede sempre para lado contrário – como eu a compreendo! Voou até Amesterdão e de lá trouxe bagagem suficiente para de aluna passar a professora de jazz naquela escola. Entre as aulas e cantar em duas bandas (os Happy Mess e os Cassete Pirata), ainda fez uma perninha no Festival da Canção de 2018, com o tema “Zero a Zero” que, felizmente, não levou zero pontos, mas não granjeou os suficientes para nos representar lá fora. Perdeu-se uma boa representante, mas ganhou-se uma excelsa cantora, pois foi a partir daí que o público mais mainstream passou a conhecer esta jovem alentejana. E se o jazz está intrinsecamente presente por defeito (de formação), a verdade é que neste disco, Joana apresenta-se mais indie-pop, num tom suave, como se se tratasse de uma brisa fresca naqueles dias de verão quente, em que se não corresse aquele ventinho, era impossível estar na praia. “Leva-me a dançar primeiro” e eu fui; “Pensa bem”, e eu pensei. E cheguei à conclusão que a música portuguesa no feminino está muito bem e recomenda-se!

5 Joana Schenker
Sendo filha de pais alemães, seria de esperar que o frio lhe corresse nas veias. Mas tendo nascido em Sagres, o frio da água do mar percorre-lhe o fato colado ao corpo de cada vez que se faz às ondas, deitada na sua prancha de bodyboard. Joana Schenker é portuguesa de Sagres e, por isso, sempre esteve em contacto com o mar e com tudo o que lhe estivesse relacionado. Não admira, por isso, que se tivesse encantado pelas ondas e descoberto uma das maneiras de podê-las domar. Depois de vários títulos alcançados em campeonatos de juniores, quase sempre em lugares de pódio, em 2017, chegou a consagração: tornou-se Campeã Mundial de BodyBoard, tendo sido a primeira portuguesa a alcançar este feito. Se isto não é motivo de orgulho nacional, vou ali e já venho. Não fui a lado nenhum, se querem saber…
Mas podia pensar-se que Joana podia, agora, descansar à sombra dos louros que alcançou. Mas a fibra com que são feitas estas mulheres não lhes permite que o façam. E basta navegar um pouco nas ondas do seu site (http://www.joanaschenker.com/) para percebermos que Joana tem, para este ano de 2019, um projeto em conjunto com a Fundação Oceano Azul e o Oceanário de Lisboa, onde se predispõe a contar as suas experiências como atleta de alta competição, do sonho à concretização do mesmo, tendo por base os seus valores pessoais e sociais, não esquecendo a transmissão de mensagens importantes como a literacia e proteção dos oceanos. Quer dizer, para além de gira, ainda é boa pessoa e extremamente profissional! Se isto não inspirador, vou ali e já venho!
Continuo no mesmo sítio, para que conste.

6 Joana Vasconcelos
Todas sabemos para que serve um tampão (e todos também, já agora #normalisewomensbodies). Mas Joana Vasconcelos viu potencial para além do uso normal do mesmo. E de um simples utensílio mensal se fez um lustre. A obra “A Noiva” é uma das mais icónicas de Joana Vasconcelos, mas também uma das mais representativas do seu estilo mundano, corriqueiro, contemporâneo. A criatividade de Joana, de pegar em objetos do dia-a-dia e dar-lhes outra vida, outra perspetiva, fez dela uma das mais conceituadas artistas plásticas do mundo. Um estandarte da portugalidade, uma mulher reconhecidíssima na sua área. Foi a primeira mulher e a mais jovem artista a expor no Palácio de Versalhes, em 2012. O famoso cacilheiro revestido a cortiça e ornamentado com azulejo português e crochet, foi projetado para ser apresentado na Bienal de Veneza, em 2013, e teve um impacto tão grande quanto o tamanho da obra! No ano passado, expôs em nome individual no Museu Guggenheim, em Bilbao; e este ano, regressa com uma exposição – “I’M YOUR MIRROR” – num dos mais belos e importantes museus portugueses: Serralves. Nesta exposição, para além de “A Noiva”, poderá ver a “Cama Valium”, obra de 1998, “Coração Independente Vermelho”, de 2005, assim como novos trabalhos especificamente criados para esta mostra, como “Finisterra”, “I’ll Be Your Mirror” ou “Solitário”. Tente-se pela arte de Joana Vasconcelos e surpreenda-se: a criatividade e a imaginação tendem a provocar esse efeito. Eu confirmo.

7 Joana Marques Vidal
Quando nos perguntam, em pequenos, o que queremos ser quando formos grandes, creio ter respondido, entre outras coisas, cantora, jornalista, mas mais vezes respondi advogada. E dizia-o porque queria defender os fracos e oprimidos. Uma vítima de bullying a querer fazer justiça, no fundo. Por circunstâncias da vida, o Direito deixou de fazer parte do meu dia-a-dia, mas se tivesse continuado, a aspiração (e inspiração) seria ser como Joana Marques Vidal. Foram seis anos como Procuradora-Geral da República e foram seis anos em que por ela passaram as investigações dos maiores processos – pelo menos, daqueles que mais mexeram com poderes instalados, da política ao futebol. Por uma vez na vida, vimos que nem sempre quem se lixa é o mexilhão. Desde que tomou posse como Procuradora-geral da República (PGR), o Ministério Público acusou um antigo primeiro-ministro, fez cair um ministro de um Governo PSD, investigou um ministro do Governo de António Costa e levou à saída de vários dos seus secretários de Estado, esfriou as relações políticas entre Portugal e Angola, com um processo contra um ex-vice-presidente, afastou juízes-desembargadores das suas funções na Relação de Lisboa e muito mais. A corrupção é um tumor que tem metástases em várias da sociedade portuguesa e Joana Marques Vidal não teve problemas em avançar com vários processos de “quimioterapia” para o estancar. Parou a teoria da limitação de mandatos do PGR, não fosse acontecer como aconteceu com um antecessor seu, que esteve no cargo 16 anos.
O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa condecorou-a, em outubro último, com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, por “seis anos de corajoso e dedicado serviço à causa pública”. Muitos mais viessem, Portugal precisa de mais Joanas assim.

8 Joana Caldeira e Joana Cabral
Este número oito é mais um dois em um, mas que devia ser mais um quatro em linha. Joana Caldeira e Joana Cabral foram duas das quatro jovens cientistas – juntamente com Patrícia Costa Reis e Diana Madeira – que ganharam recentemente, as Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência. Joana Caldeira quer ajudar num problema que, quem tem, sofre muito com ele: dores nas costas. A Investigadora do i3S – Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto, quer utilizar a tecnologia de edição genética CRISPR (CRISPR/Cas9) para a regeneração dos discos intervertebrais, cuja degeneração causa a dor lombar que afeta mais de 70% da população mundial e para a qual os tratamentos atuais não são eficazes a longo prazo. Já Joana Cabral, investigadora do Instituto de Investigação em Ciências da Vida e Saúde, da Universidade do Minho, doutorada em Neurociência Teórica e Computacional, em Barcelona, e formada em Engenharia Biomédica, pretende com a sua investigação, fazer diferença no entendimento de doenças psiquiátricas e neurológicas. “Portugal está a fazer um percurso positivo na igualdade de oportunidades e no reconhecimento das mulheres na área da ciência, porém há ainda muito por fazer sobretudo nos lugares de topo. Este prémio reconhece o mérito e a importância dessas jovens cientistas e serve de incentivo para prosseguirem a fazer ciência com qualidade”, quem o diz é Cátia Martins, CEO da L’Oréal Portugal. Uma mulher, Presidente da Comissão Executiva de uma sucursal, cuja empresa-mãe é uma das mais prestigiadas e reconhecidas internacionalmente e que trabalha, sobretudo, para as mulheres e a pensar nelas e no seu bem-estar. Afinal, este número é (sobre) 5 estrelas.

Nota sobre a autora

Olá, o meu nome é Tatiana Mota e passei ao lado de uma grande carreira na TV e na rádio. Como podem, aliás, ver neste vídeo de 35 segundos que realizei para um passatempo, e onde se denota grande talento de atriz (cof… cof…).

Para além disso, e para não passar ao lado de uma grande carreira na escrita, tenho vindo a desenvolver esse skill não só em publicações de informação cultural, como a LeCool Lisboa, mas também na nouvelle plataforma Reveal Portugal , sem contar também que sou foodie na Zomato.

Se tenho Instagram e Facebook? Claro que sim: no Insta – como dizem os jovens – e na xafarica do Sr. Zuckerberg, estou como sou, sem maquilhagem, em Alta Definição.

Atualmente, não tenho blog – mas já tive – e influencer, só se for a influenciar os filhos das minhas amigas a serem do Benfica. Penso estar a fazer um bom trabalho nesse sentido ?

Partilhe nas Redes Sociais
FacebookTwitterPinterest

2 comentários em “Isto é o da(s) Joana(s)

  1. Parabéns! É muito bom dar a conhecer as nossas “Joanas”, anda muito gente distraída com programas inenarráveis! ?

Deixe uma resposta

* Campos obrigatórios