Somos todos tão frágeis

Times are hard for dreamers.”, disse Amélie Poulain. O que são os apaixonados senão uns sonhadores naturais, e os que mais tombam perante a existência? Elogiam-me de ser a leveza da vida, sem conhecerem a tragédia que dentro de mim carrego. Os dias de imensa dor. A ansiedade vertical. O pânico sobre um futuro desfocado. Calada, sonho e sofro em segredo, para que os maus não me acusem de ser louca, fraca ou bobo da corte. Falta-me o palco, os colegas criativos, a sala de ensaios, a verdade, e só existo pela metade, ou uma décima parte de mim. Quero ser em dobro. Quero cair para dentro das entranhas, e oferecer vozes coletivas. Quero arrastar-me para uma profundidade de laboratório emocional e personagens teatrais. Quero existir. Perco-me agarrada ao que não existe, porque já não sei como se faz, se começa, e se ganha. Existe-me o talento, as ideias, a vontade, é tudo tanto, só que não há força, nem papéis esboçados com o meu nome a explicar como se levantam as oportunidades de vingar nesse mundo artístico que me foge. “O meu tempo ainda não é agora”, convenço-me em voz baixa. Escondo-me a pensar numa solução para a apatia e como é que se despista esta dor interior – Canto? Danço? Chateio os amigos? Viajo? Peço ajuda? -, nunca a encontro, sou sempre interrompida pela feroz obrigação da sobrevivência, o regressar ao trabalho fora das artes, a esse que rouba a verdade de mim. E ao fim do dia, já não sei onde é que existo, no sonho parado ou na vida mentirosa, sem espaço para ser inteira, e é aí que é mais simples afundar-me na tristeza do que me resgatar dela. A depressão é um velório dentro das pessoas que sabe esconder-se até no sorriso que habitualmente conquista o mundo. Escreveu-me alguém no outro dia “pelo o que vou vendo diria que a derrota já não é uma hipótese para ti.” Existem dias em que a derrota é tudo o que desejo, mas se ainda não morri é porque tenho um trabalho inacabado neste mundo, e um sonho que tenho que proteger. Creio ainda na esperança de beijar o sonho lindo, sem azuis interiores e remelas ladras. Amo demais. Sinto tudo demais e viver nesta condição de muita paixão, e sofrimento, em certas alturas dói, dói muito. Ser grego…

Nota Sobre a autora: 

O meu nome é Filipa Pina. Sou aprendiz de Humano, nasci no campo, tenho 25 outonos, e formei-me como atriz. O caminho tem sido duro, solitário e longo. Sou curiosa, apaixonada e sonhadora romântica. Emigrei, trabalhei em inúmeros setores fora das artes, chorei e questionei muito o universo sobre o porquê de não conseguir um palco, e na falta de respostas comecei a desenvolver o meu caminho espiritual. Liberto-me no yoga, na corrida e no silêncio. Sou apaixonada por cinema, danço com a alma no regaço e perco-me horas nos livros que me chegam às mãos. Escrevo porque não me sei explicar de outra forma, foi a vida que me ensinou a escrever, foi a vida que me pediu que escrevesse. As palavras tornaram-se a minha casa, é na arte que sou inteiramente eu. Estou desde março a trabalhar numa caixa de supermercado, e em paralelo, a viver uma vida dupla, enquanto escrevo o meu primeiro romance. Sou da família dos pássaros sem gaiola, e dia 6 de setembro, parto novamente para o UK, com uma fúria destemida de abraçar o meu sonho, para que ele não esmoreça ou morra. A arte salva-me todos os dias, a vida por si só não me chega, preciso de poesia, do riso, da dor. Não tenho tempo para morrer. “For an artist, to be normal is a disaster.” – J.Mekas.

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