Singularidades
Publicado a na categoria Reflexões
Sei que não tenho sido o filho que esperavas e que, talvez, não esteja à altura de tudo o que sonhaste para mim. Não gostas dos meus amigos, nem vês com bons olhos a minha relação com a Carolina. O meu aproveitamento na escola é só razoável, e os meus gostos musicais deixam-te cheia de dores de cabeça. Quando penso na forma como, cada um de nós, vê o mundo, chego a duvidar que sou teu filho. Dizes que é uma questão geracional, que quando chegar à tua idade e tiver filhos, vou compreender as tuas atitudes. Não sei se me convences…
No outro dia, na aula de psicologia, a professora falava da diferença e da aceitação, da singularidade do ser humano e de como isso representa o melhor de nós: sermos únicos e todos diferentes. Aquilo fez todo o sentido para mim… Mas quando penso em ti, pergunto-me se concordas com isso.
Não gosto de jazz.
Não quero ir para a universidade.
E quero casar com a Carolina (quando chegar aos 30, tem calma!).
Só queria que tentasses entender as minhas escolhas e os meus gostos, como eu aceito os teus.
Nunca quis que deixasses o pai. Não queria mudar de cidade, nem deixar os meus amigos.
Nunca te disse nada quando chegavas atrasada à primária para me ir buscar e eu era sempre o último miúdo a ir para casa. Ou quando trabalhas ao fim de semana, e tenho que ficar em casa da avó.
Nunca me queixei quando estou a falar contigo e atendes o telemóvel, porque é do trabalho, e é urgente (é sempre urgente).
Entendes, mãe?
Amo-te assim… tal e qual como és… sem tirar nem por. Amo-te, porque sim.
Só queria que visses essa minha singularidade de que a professora de psicologia falou.
Nota sobre a autora
O meu nome é Lídia Oliveira, tenho 38 anos e sou formadora/tradutora.
Não sou profissional da escrita mas gosto imenso de escrever…
Criei um blog, constituído por pequenos textos, muito simples, que escrevi para me ajudar a falar com a minha filha de 7 anos, sobre vários assuntos. É uma miúda muito curiosa, que faz imensas perguntas e gosta muito de histórias; esta foi a forma que encontrei, para tentar abordar questões que ela me coloca. Acredito que o papel dos pais é fundamental na formação dos filhos para a aceitação da diferença e o respeito por si e pelos outros. Este é o meu pequeno contributo.