Simone e eu

 

Foi num sábado à noite que tudo aconteceu. Dia de ir ao Coliseu ver a peça “Simone, o Musical”. Tinha comprado o bilhete uns dias antes, a minha vontade de ir sobrepunha-se à impossibilidade de alguém me acompanhar e, portanto, fui sozinha.

Sempre tive uma grande admiração pela Simone e senti que o espetáculo me iria dar a conhecer melhor o seu percurso. Cheguei meia hora antes com medo de não chegar a tempo. Estava ansiosa. Entrei e sentei-me no meu lugar, na primeira fila. O espetáculo começou, nasceu logo o retrato do cartaz alusivo ao musical: Simone a fumar um cigarro. A peça teve grande dimensão desde o início, tudo estava conectado.

Embarquei na viagem que foi a vida da Simone desde o primeiro instante. Os atores levaram-me para palco, as vozes embalaram-me. A retrospetiva da sua vida foi-se desenrolando, uma história de vida que é admirável, uma carreira inigualável. Entre os amores, os desamores, as desilusões e as quedas percebemos as dificuldades pela qual a Simone passou mas foi sempre com grande humor que as interpretou, havia sempre uma gargalhada sincera e uma esperança que fez desta mulher uma mãe, uma amiga, uma mulher e uma cidadã incomparável.

O trabalho artístico de criar duas personagens que são a mesma pessoa mas em tempos diferentes: uma personagem que representa a jovem Simone, interpretada por Sissi Martins, e a própria Simone dos dias de hoje deu ainda mais vida ao musical. O elenco tem uma ligação muito forte, sente-se uma intimidade contagiante. As histórias parecem acontecer em tempo real. O mais bonito em toda a peça é que se canta com muita emoção e isso não se pode transcrever, apenas sentir. Foi o que me fez esboçar grandes sorrisos e deixar cair algumas lágrimas. As músicas são como um hino, fazem cantar a multidão e tocam-nos no peito. Tomei-as um pouco como minhas porque são, na verdade, músicas de todos nós. O nosso Sol de Inverno. A nossa Desfolhada. São músicas de coragem, de honra, de luta. Porque o que fica no final é uma imagem de luta, uma luta incansável pela felicidade e pela voz, uma voz que queria ser ouvida. Uma voz de coragem que nunca se conteve e que quando esmoreceu e quase falhou, não se calou, continuou a trabalhar, a sobressair. Nunca foram só as cantigas, as nossas cantigas. É uma voz que as pessoas respeitam, uma voz que enche salas, uma voz que hoje traduz um país porque a Simone é Portugal, faz parte deste grande património. E no fim deste espetáculo, tinha o coração cheio. A multidão levantou-se para aplaudir, ecoava no Coliseu um sentimento de gratidão por aqueles momentos. Senti que sabíamos todos a qualidade e o poder que estava naquele palco. Fui, desde cedo, uma apaixonada por biografias, mas esta tocou-me particularmente porque pude aplaudir esta homenagem de pé em frente à Simone. E então percebi que aquele sábado à noite se tornou num sábado que jamais seria esquecido. Será para sempre uma memória do Coliseu, de uma mulher de garra e do meu coração cheio.

 

Nota sobre a autora

Sou a Sara Pereira, tenho 19 anos e sou estudante de licenciatura em Ciências da Comunicação. Sou desde que me lembro uma apaixonada pela escrita, sempre gostei de transcrever para o papel muito do que se passava à minha volta. Fui- me apaixonando pelo jornalismo desde pequena mesmo sem saber, na altura, o verdadeiro significado da profissão. Hoje sinto que tenho esse destino traçado porque escrevo com verdade, com mais rigor, com mais profissionalismo e principalmente com a certeza de que deposito muito amor naquilo que faço.

 

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