Ser estrela numa constelação

 

 

Costumo dizer que cada corpo conta, à sua maneira, uma história. Entre arranhões, sinais e cicatrizes somos feitos de todas as marcas que vamos ganhando em vida.

Gosto de acreditar que desde os 12 anos me foi dado o dom de sentir as coisas de uma forma diferente.

 

Entre brilhos que encadeiam, cheiros que se intensificam, sentir cada músculo, cada articulação, cada tendão é só para alguns.

F-I-B-R-O-M-I-A-L-G-I-A. Sim, é este o nome do meu super poder.

 

Digam o que disserem, adivinhar o tempo com semanas de antecedência não é para todos. Mais, ter de fazer as tarefas do dia a dia com um ritmo diferente da maioria faz com que organize a minha agenda de forma completamente distinta das que por aí se fazem.

 

Esperar pelo fim do Verão para conseguir nadar (porque este super poder teima em não me querer a banhos até ao final de Agosto) torna-me diferente de todos.

E como é bom ser diferente de todos! É ter-me sido dado o estatuto de poder visitar muitas batas brancas e conhecer muitos estetoscópios espalhados por aí. É poder usufruir de massagens constantes em clínicas de fisioterapia. É acreditar que ainda há um longo caminho a percorrer no que toca ao conhecimento deste super poder.

 

Dizem, os mais sábios, que no universo há aglomerados de gases e poeiras que formam as estrelas. Ter fibromialgia é mais ou menos o mesmo. É ser estrela todos os dias. Entre aglomerados de sintomas e de descrenças em relação ao que se sente, é ter um brilho que nos torna diferente de todas os corpos celestes que por aí circulam. É ser constelação num mundo onde o brilho de algumas estrelas se vai desvanecendo.

 

 

Nota sobre a autora

Chamo-me Ana Mangericão. Sou professora a tempo inteiro e sonhadora nas horas vagas. 

Escrevo para dizer aquilo que o coração não consegue explicar. Fotografo para mostrar aquilo que a alma está a sentir. 

Tenho 29 anos e há 17 anos que tenho fibromialgia. 

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