Saber estar sozinho/a

Eu já fui uma daquelas pessoas que nunca conseguia estar sozinha.

Eu já fui uma daquelas pessoas que fazia o meu ex-marido estar horas no shopping para fazer compras comigo ou ir ao cinema ver um filme que ele detestava para eu não ir sozinha e já disse a frase cliché “Tu gostas mais de futebol do que de mim” quando ele via um jogo de futebol por semana.

Eu já fui uma daquelas pessoas que só ia à praia com amigos.

Dava um dedo mindinho pelos vossos pensamentos neste momento, depois de lerem estas frases tão ridículas, mas verdadeiras.

O cérebro humano tem muitas capacidades, mas ao afunilar a informação, o nosso cérebro acaba sempre por ir parar a dois comportamentos:

Primeiro, não está preparado para sofrer e dá um sinal imediato de carência, assim que o nosso corpo está em sofrimento, nem que seja em coisas tão insignificantes, como  aquele bolo que nos apetece, mas não podemos comer porque faz mal à saúde e em segundo lugar, o nosso cérebro não está preparado para ficar sozinho e por isso procura constantemente conexão com outros, seja no amor, amizade ou colegas de trabalho.

Se pensarmos em viagens, por exemplo, nós podemos estar muito felizes a descobrir um país desconhecido, mas assim que encontramos alguém da nossa nacionalidade e que fala a nossa língua, sentimos imediatamente uma sensação de ligação e conforto, porque o cérebro envia a mensagem “já não estamos sozinhos”.

Quando não queremos pensar em alguma situação que nos está a preocupar, procuramos todas as distrações possíveis, essas distrações envolvem sempre estarmos rodeadas de barulho ou pessoas, como por exemplo aquele dia inteiro no sofá a ver séries, ou um programa sem grande conteúdo ao final do dia, que não nos deixa pensar em preocupações, as redes sociais ou sair com amigos para um restaurante barulhento.

Mas a Tranquilidade é o novo luxo.

A maioria das pessoas estão viciadas em distrações e deixámos de valorizar o nosso tempo pessoal, mas na realidade, nós perdemos entes queridos, algumas pessoas entram e saem da nossa vida, os casamentos podem acabar, mas só nós estamos connosco a vida toda.

Quanto melhor estiver sozinho/a, melhor será a intimidade e a fluência consigo mesmo/a.

A relação que temos connosco é a relação que vamos ter com os que nos rodeiam.

Para conseguir usufruir do nosso potencial, criatividade e criar prosperidade e produtividade, precisamos arranjar tempo para estar sozinhos, mesmo que só uma vez por dia.

Para aprofundar o seu verdadeiro EU, dedique mais tempo a si mesmo/a e a gostar mais de si. Na maioria das vezes, a maior dificuldade é explicar aos outros que correm tanto como nós porque precisamos de tempo para nós, dá-nos uma sensação de egoísmo e falta de altruísmo, exige mudar as rotinas e largar a resistência.

É difícil e desconfortável confrontar o nosso interior no início, mas compensador no fim.

Não precisa mudar o seu dia-a-dia radicalmente, pode fazê-lo progressivamente e calmamente. O momento de estar consigo, pode ser em qualquer hora do dia. Pode ser aquela primeira meia hora ao acordar em que visualiza o seu dia e projeta para o universo os seus desejos, pode ser à hora de almoço num jardim em vez de um restaurante barulhento ou pode ser ao deitar. A última meia hora do nosso dia deveria ser dedicada às nossas orações e desejos e é um excelente momento para fazer um balanço do seu dia. Algumas pessoas encontram tranquilidade e foco no banho.

Todos temos um propósito na terra e uma missão de vida que só quando paramos para estar sozinhos e nos conhecer melhor, descobrimos qual é a nossa verdadeira vocação.

Quanto mais estiver sozinho/a, mais vai libertar informação tóxica e viver feliz e realizado/a.

A sociedade teima em dizer que, para sermos aceites, precisamos de estar constantemente rodeados de pessoas e é até bastante crítica em relação à independência pessoal.

Alguns ou algumas já ouviram certamente a frase: “Vai jantar sozinho/a?” ou “Vais sozinho/a de férias? Não tens medo?”

Hoje eu sei que afinal, não é assim tão mau ir às compras sozinha, gastar o dinheiro que me apetece e receber aquele elogio que aumenta a boa disposição ou ir sozinha ao cinema ver o meu filme preferido e viajar para dentro do universo da história, como se aquele mundo fosse só meu. Mas o mais gratificante no meu processo de crescimento pessoal foi descobrir o que realmente sou e poder partilhar com todos.

 

Nota sobre a autora

Sandra Almeida

47 anos

Maquilhadora & Formadora de Comunicação

A escrita começou por ser um exercício pessoal para conseguir sintetizar ideias e não dispersar nas minhas aulas e acabou por se tornar uma paixão. 

A comunicação mudou a minha perspectiva da vida e o meu crescimento pessoal e agora quero mudar a vida dos outros.

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3 comentários em “Saber estar sozinho/a

  1. Não me lembro se deixei de ir ou fazer algo por estar sozinha…
    Sei que hoje faço o que decido porque tenho vontade e me fará sentir bem.
    Também sei que quando decido ir/fazer há quase sempre alguém (de quem gosto) que se junta a mim!
    Hoje passo muitas vezes esta mensagem aos meus filhos: “não faças q sim, faz pq queres fazer, pq ficarás feliz por isso, estejas sozinho ou acompanhado”… E tem dado os seus frutos!

  2. Sem dúvida Ritinha! Gosto tanto de sair sozinha comigo! Gosto tanto de dar grandes caminhadas,tomar café,ir as compras,almoçar fora! Ir visitar igrejas,tambem fazer as minhas orações!Precisei de me emcontrar a mim e olhar para mim,falar comigo,tanta coisa descobri sobre mim’! Mas também tive o meu tempo em que não conseguia estar sozinha! Mas,o ninho ficou vazio e foi preciso MUDAR!Hoje tenho 50,mas comecei a precisar de mim! Pensar em mim. E vou dizer_lhe! Estou amar! Beijocas

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