Recordação

Este texto foi escrito não só em memória de Saramago, como em memória de todos aqueles que são esquecidos pelo atravessar do corriqueiro nas nossas mentes. Foi suscitado o interesse em falar de recordação devido ao triste acontecimento da morte de Helena Almeida, recordada pelos piores motivos e menos relembrada quanto aos acontecimentos gloriosos.

 

Haveremos de dar oportunidade aos escritores de hoje para que se erguam perante a multidão. Apesar do caminho tumultuoso, nunca é tarde e nunca será. Tanto como não foi para José Saramago. Detentor do Prémio Nobel, em 1998, um pouco depois de em 1995 ter ganho o Prémio Camões, para além dos prémios America Award e Literatura de São Paulo. Decidiu lograr o seu talento além mares, após anos como serralheiro e, adiante, como jornalista; a par e passo conseguiu ser um dos escritores mais consagrados internacionalmente. Nenhum dos demais conseguirá comparar-se a esta personalidade, que de entre todos os seus fascínios pela escrita, lutava igualmente por uma sociedade melhor em que a paz fosse estabelecida, sendo humanitário e esperançoso, apesar de amargurado. Melhor dizendo, um humano que se dignificava como tal. Não aceitava injustiças e a miséria assolava-lhe o coração, pois tantas ou tão mais eram as desgraças de hoje equiparadas às que outrora havia passado.

Os largos anos de vida foram usados sabiamente por Saramago, e o amadurecimento trouxe-lhe o que muitos nunca chegam a alcançar, sabedoria e simplicidade, que interligadas o tornaram num ser extraordinário. Ganhou tempo naquele tempo em que disse que não tinha nada a dizer ao mundo, e perante a verdade ninguém pode atirar pedras. Os anos que tivera sem publicar, entre o seu primeiro livro em 1947, “Terra de Pecado”,e 1966, “Os poemas possíveis”, não fora uma decisão consciente e, talvez, até tivesse algo para dizer “mas não tão forte nem tão intenso nem tão premente dentro de mim que me levasse a sentar a escrever”, afirma o escritor. É certo que o autor é conhecido por todos, e lido por alguns, como estranhamente incutido a jovens, mesmo sabendo que a literatura só avança no momento em que a nossa mente assume um patamar acima. Contudo, continuam a insistir na proclamação da obra “Memorial do Convento” nas escolas, abruptamente, sem antes provarem um pouco de literatura. Até parece um desdém para com o escritor, devido à pouca bagagem literária acumulada. Desde cedo aqueles moços passam a ter um repúdio à literatura para além de um desinteresse pelas restantes obras de Saramago, pelo menos assim o era. Contrariamente, Saramago enquanto criança escondia-se entre os lençóis após a chamada da mãe “apaga a luz” e ficava a ler à luz de uma lanterna, livros que requisitava na biblioteca de Galveias onde passava algum do seu tempo. Sendo que na época não se imaginava, nem de perto nem de longe, o aparecimento da televisão e, muito menos, os restantes avanços tecnológicos que entretêm grande parte da juventude de hoje.

É necessário e importante, que os portugueses recordem Saramago, para que não se esqueçam do orgulho que é ser português. E há tantos artistas que merecem ser relembrados enquanto vivos. Cada vez que se recordarem dele, cresçam dois centímetros, tal como dissera na entrevista à Judite Sousa, que as pessoas que o abordavam na rua e outras tantas, até mesmo analfabetos, pareciam sentir-se mais altas após ter ganho o Nobel da Literatura, como se aquele prémio também fosse delas e com certeza que o era. Portanto, é preciso recordar sempre que a nossa mente ditar, não apenas porque faz anos ou, como acontecera na época,  porque havia ganho o Nobel da Literatura, mesmo apesar de já ser um escritor recorrente. Tantos orgulhos dentro do nosso pequeno Portugal, uns ainda por descobrir e outros a singrar, mas todos com o seu valor para recordar.

 

Nota sobre a autora

Sou a Carolina e tenho 23 anos. De momento a minha ocupação é estar à procura das palavras certas para linhas que tenho vindo a escrever e todo o processo envolvente, escrever, reler, corrigir e tornar a escrever. O mundo da escrita sempre me fascinou e sonho, um dia, singrar. Apesar do caminho tumultuoso não há outra qualquer coisa que me dê tanto prazer.

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