Quer se goste, ou não: Conan personifica o que é a arte

É domingo de manhã e a rede de transportes públicos lisboeta está “à pinha” como se estivéssemos em hora de ponta. Uma coisa eu sei; Conan Osiris, ou “aquele que tem colheres de gelado na cara”, ganhou o Festival da Canção. É tema comum, debatido em uníssono, nos três transportes que já apanhei e ainda nem são dez da manhã.

Eu sou da nova guarda. Mas musicalmente sou uma espécie de alfarrabista e por isso o Festival da Canção é para mim um momento tão sagrado quanto a missa ao Domingo na TVI para os crentes mais preguiçosos. 

Ouço comentários bons e maus. As pessoas são mais “poupadas” na oralidade do que na escrita. Isto, porque me dei ao trabalho de ir ler comentários de quase todas as fontes noticiosas online e são de bradar aos céus. Começando pelo uso macabro da língua portuguesa e passando pela memória curta de tanta gente. 

Comecemos por aí: Como é que uma geração que aplaude “Em playback, a fazer playback” num festival onde se canta música ao vivo, não se esforça minimamente para compreender uma letra que diz “eu parti o telemóvel a tentar ligar para o céu”?! Simone de Oliveira, a seu tempo, também foi ousada, ao cantar “Quem faz um filho, fá-lo por gosto”. As Doce foram representar o Carnaval de Torres à Eurovisão e, hoje em dia, todos nós percutimos com o pé quando ouvimos “Uma da manhã, ei!”. Temos, pelo menos, dois intérpretes por década, que ao seu tempo e à sua maneira, ousaram nas suas representações no certame. Levámos à Eurovisão músicas que misturam fruta com amor, balões com amor, cores com amor… Levámos os descobrimentos, duas tentativas contemporâneas de fado, uma enxurrada de conflitos disfarçados de “Tourada”. Também levámos a saudade e agora o caminho para Israel faz-se com “Telemóveis”. 

Quer se goste, ou não – Conan personifica o que é a arte. E, por isso, mesmo não é consensual. Mas o homem vestido com franjas e “colheres de gelado” na cara, é mais do que um boneco de palco. É muito mais do que isso. Conan embarga na voz toda as origens de um “Portugal cantor”, e, caso não percebam o que quero dizer com isto, ouçam referências musicais que vão desde os mouros, a Severa, passando pela música cigana e findem o trabalho de pesquisa ali pelas décadas de 70/80. Se mesmo assim acharem aquela forma de cantar “estranha”, não querendo desmerecer ninguém, então o estranho não é o rapaz. Mas as opiniões são como os rabos. Cada um com o seu. Ou neste caso; cada pessoas com a sua. O Conan vai representar Portugal. Disso eu não tenho dúvidas. (Já ninguém tem!). E levamos a palco o que não é consensual. Levamos uma nova linguagem. Um novo arranjo. E levamos, sobretudo, e pela primeira vez, um conceito visual inovador e enigmático. Levamos três artistas. O Conan na voz. O João a dançar (e sim, o moço dança! Tentem lá repetir o mesmo em casa com a mesma paixão no olhar, e depois digam-me se conseguem). E levamos o Rúben. E agora perguntam; quem é esse? Rúben de Sá Osório é o stylist autor de toda aquela harmonia visual. Daquela história bem defendida através da roupa. De tudo o que os olhos dos espectadores “comeram”. E eu fiquei cheio, no bom sentido. No melhor. 

Rumamos a Israel pelas mãos de três rapazes novos, com uma noção estética que já está em 2039, quando nós ainda vagueamos por 2019. E há aqueles que ficaram em 1959, mas essa conversa já é outra. 

Vamos na voz de um rapaz que sabe o que é a vida e assim a canta. Vamos na voz de alguém que tanto fala em inglês polido, como em portugês calão. Mas sejamos verdadeiros; O que é que é pior? Usar calão no discurso, ou ser calão para não (tentar!!) compreender o que está para além do óbvio? Vamos a cantar “Eu parti o telele”. Vamos a dançar sem regras. Vamos mostrar a nata da moda portuguesa. Vamos levar o Conan. E vamos muito bem. Acreditem no que vos digo.”

Nota sobre o autor

Mário de Carvalho. 23 anos . Celebrity Stylist.

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2 comentários em “Quer se goste, ou não: Conan personifica o que é a arte

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