Que contas, Eça?

Ler aquece a alma. É o primeiro passaporte. É a primeira viagem. Muitas vezes são as primeiras emoções descritas, narradas, como se alguém nos tivesse escutado e as tivesse desenhado um conjunto de traços, para dar forma e contorno de caligrafia aquela sensação que sentíamos e que nem nome sabíamos que tinha, por julgarmos que jamais, alguém no mundo passou por aquilo.

Os livros são companheiros de todas as horas, que aos poucos formam, sendo colocados de lado por esta modernice de fazer scroll num ecrã, nos tempos mortos. Ato vazio de sentido. Tão vazio, que se percebeu que 2019 não iria continuar dessa forma! O desafio é voltar a ler. Definir um número de páginas diárias, uma meta mensal. No caso, é um mecanismo que funciona.

Definida a estratégia há que dar o primeiro passo. Começa-se com os clássicos. Nada mais que o bom velho Eça. Descritivo? Talvez. Contudo é uma descrição que nos coloca no local, como parte daquela cena e ainda tem o dom de nos dar pistas sobre o enredo. A primeira noite de Maria Eduarda e Carlos foi marcada por uma forte tempestade. Todo um presságio para os protagonistas.

Porém, o nosso Eça não é apenas um romancista. Também tem o dom do conto. O livro Contos de Eça de Queirós leva-nos numa viagem por diferente temática, mas que se complementam.

Em “Singularidades de uma Rapariga Loira” sentimos na pele o enamoramento, o amor o empenho e depois o desgosto. Ao longo da história sentimo-nos pequeninos, a ler o amor ingénuo que começa e quando atinge o seu auge perde a inocência pela força do desgosto.

Logo de seguida temos “Um poeta Lírico”, sim corresponde à imagem que se desenha logo que lemos o título. O poeta que se embrenha numa relação com a sua máquina de escrever e bebe a vida com todos os seus dramas. O poeta que sente todas as dores e lhes dá forma nas palavras.

Chegamos ao “Moinho”. Foi o primeiro conto de Eça que li, aliás ainda hoje ouço o professor de português a ler-nos a história da mulher cuidadora incondicional que descobre a paixão e vê a mulher para além da mãe e da esposa diligente. Mostrar a mulher nas suas várias facetas.

“A civilização”, quantos de nós não tem um vislumbre da mediocridade que a quantidade na vida nos faz sentir. A história é de um rico que se apaixona pela vida simples. Faz-nos pensar que muitas vezes o excesso nos retira o melhor da vida.

Por falar em civilização vamos ao conto do “Tesouro”. Literalmente um tesouro, três irmãos e a ganância como mestre, estamos a ver no que isto vai dar?

“Frei Genebro”, o homem que fez mil ações certas e que foi condenado por ter cometido um erro. Quando um erro nos define, independentemente de teremos feito mil coisas bem. Já sentimos na pele, certo?

“Adão e Eva no Paraíso”, esqueçam tudo o que foi dito. Se esta história existiu foi como Eça a escreveu. Sem sombras de dúvidas! A evolução teve como premissa as dificuldades do “paraíso”. São as dificuldades que nos fazem seguir em frente.

Por falar em dificuldades, temos a “Aia”, a lealdade humana personificada numa figura. Uma aia leal que salva o príncipe sacrificando a vida do próprio filho. Depois de ser recompensada com todas as recompensas humanas, vimos o seu sofrimento cravar um punhal no seu coração para ir dar de “mamar ao seu menino”, pois já cumpriu a sua missão: salvou o seu príncipe. Quanto do que é importante já foi por nós sacrificado para cumprirmos uma missão?

O “Defunto”, uma história de uma traição que nunca aconteceu, uma vingança que consumiu uma pessoa e um amor que por fim vence. As tricas humanas na sua essência!

“José Matias”, uma representação do que é a decadência Humana.

“A perfeição” já todos conhecemos Ulisses e a lealdade da sua esposa. Neste conto vemos um complemento à icónica história. Ulisses na perfeição da ilha decide, ou melhor, implora para sair dela por ser demasiado perfeita. Uma vida perfeita, torna-se imperfeita!

O último conto é o “Suave milagre”, a força de acreditar. No fundo, o essencial desta vida.

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina. Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária. 

Partilhe nas Redes Sociais
FacebookTwitterPinterest

1 comentário em “Que contas, Eça?

Deixe uma resposta

* Campos obrigatórios