Que amor é este?

 

Durante uns dias não estás ao pé de mim. Sei-te muito bem, nos miminhos dos avós em gargalhada constante.

Durante uns dias não estás ao pé de mim e, apesar de te saber muito bem, sinto-te a ausência (do cheirinho a leite e bolachas, do chorrilho constante de interrogações, dos abraços e beijos sôfregos, afinal amamo-nos todos os números, e todos os números é tudo).

Antes da tua partida, olhaste com melancolia para o aquário novo e gigante dos peixinhos «xintilantes». Depois pediste-me:

— Mãe, podes colar uma fotografia minha ao vidro do aquário para os peixinhos não se esquecerem de mim?

Sorri, enternecida. Cumpri a promessa e a foto lá está, não colada mas numa moldura, pertinho do aquário.

E sabes, filha? Ontem, quando cheguei a nossa casa (tão estranha-mente vazia), sem sequer pousar as chaves, deixei-me escorregar pela parede e sentei-me no chão em frente ao nosso mundo novo de peixinhos «xintilantes».

E, por momentos (posso jurar-te) pareceu-me vê-los, também melancólicos, a olhar para a tua fotografia, antes de se perderem nos passeios habituais.

E até me cheirou a leitinho e bolachas. 

 

in “Deve Ser Isto O Amor”

Rita Ferro Rodrigues

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