Quanto mede o nosso quintal?

 

Chamamos quintal a uma pequena quinta ou simplesmente a um pequeno jardim com horta. Com a liberdade de escolha relativamente ao que lá queremos semear ou plantar, encontramos culturas padronizadas e semelhantes entre vizinhanças, como cenoura, batata, cebola, beterraba, couve ou nabo, entre muitas outras. Olhando com pormenor, podemos encontrar salsa, coentros ou orégãos.

Colocando de parte a vertente económica da subsistência, dizem os antigos que para encontrarmos a saúde, coisa difícil, basta procurarmos um quintal. Com ele, dizem, podemos baixar a tensão alta, ficar com os olhos mais bonitos, mandar o mau colesterol à fava e alisar a pele. Até mesmo, para os mais predicados, conseguir confeccionar uma deliciosa sopinha.

Na verdade, todos temos um quintal! Pode ter hectares e ser pequeno. Pode caber apenas num vaso de varanda ou peitoril da janela e ser enorme. Devemos dar-lhe atenção e tempo, carinho, uma boa dose de paixão e, acima de tudo, muito pouca expectativa numa grande colheita e sem prazos para que as plantas floresçam.

O nosso quintal, ainda que discordando com os antigos, infelizmente não basta para que a saúde se encontre sempre, ao longo da vida. No entanto, ele é mais do que suficiente para que nos proporcione grandes momentos de felicidade. Para isso, devemos cuidar dele, em vez de apenas esperar grandes resultados ou produção. Dar o que temos de melhor, sem condicionar ou exigir retorno. Todo este cuidado contínuo, é melindroso e sensível, pois também se cultivam emoções profundas que podem, em múltiplos momentos, exigir mais afeto do que água. Mais carinho do que fertilizante ou mais coração do que adubo.

Por melhor que seja a semente ou raiz, dificilmente haverá colheita final, se antes não existir o dia-a-dia de proximidade com a terra, presença contínua.

Depois, e quase sem nos apercebermos, a primeira folha que aparecer será a mais bela. O fruto, o mais doce. A erva aromática, a mais perfumada.

E o prazo de validade dos momentos felizes prolongar-se-á indefinidamente até ao ponto de chegarmos a confundir o tamanho do nosso quintal.

Será que algum dia teremos a perceção do seu tamanho?

 

Nota sobre o autor

Chamo-me José Rodrigues, tenho 49 anos, casado e pai de dois filhos lindos. Sou consultor, formador e lidero uma empresa de consultoria que formei há 20 anos.

Adoro escrever. Talvez por servir para exorcizar todos os meus fantasmas. Talvez porque o meu mundo profissional, tremendamente ligado a números, faça com que muitos dos meus dias e noites se acalmem através da escrita. Tenho dois romances publicados e no mercado ( “O Rio de Esmeralda” e o “Voltar a Ti), mas antes deles escrevi um outro ( “Boas memórias de um mau estudante”) acerca do tema que mais me fascina e que me faz seguir atentamente o Elefante de Papel – a memória!

Todos os dias escrevo sobre quase tudo o que me vem à cabeça ou me preocupa.

Partilhe nas Redes Sociais
FacebookTwitterPinterest