Privação do Sono: consequências para a saúde

Nos dias de hoje, e devido ao stress constante em que as pessoas vivem, dormir tornou-se quase um luxo, ou seja, algo que não pode ser feito em demasia. Esta forma de pensar e de desvalorizar o sono tem vindo a entranhar-se na mente da maioria das pessoas, e então é ver a grande maioria da nossa população a dormir cada vez menos e cada vez pior. Ou é porque trabalham até tarde, ou porque não conseguem organizar-se de forma a dormir o necessário, ou porque o stress e a ansiedade são tão grandes que não conseguem desligar do trabalho ou dos outros afazeres ou mesmo porque consideram que dormir é uma perda de tempo e que há coisas bem mais interessantes para fazer.

Enquanto profissional de saúde e terapeuta, tenho contactado com casos em que a privação do sono é o gatilho para o desenvolvimento de certas doenças, e isso é preocupante. Claro que uma única noite mal dormida ou passada em claro não vai ter um impacto grave. Mas se isto for a regra e não a excepção, a médio e longo prazo, o corpo começa a ressentir-se e a adoecer. Para que fique com uma ideia de como a privação do sono pode ter consequências negativas na nossa saúde, vou apresentar algumas das doenças que lhe estão associadas.

Perturbações de Ansiedade. A ansiedade e o stress estão relacionados com o aumento do cortisol – hormona responsável pelo estado de alerta. Em níveis normais, esta hormona é essencial ao funcionamento do nosso corpo e é durante o sono que esses níveis são regularizados. Ora, quando a pessoa não dorme, ou tem um sono de qualidade menos boa, os níveis de cortisol aumentam, mantendo o corpo num estado permanente de alerta, impedindo o relaxamento, o que conduz a situações de agitação, stress e ansiedade.

Hipertensão Arterial. Além do cortisol, também a adrenalina e a noradrenalina são produzidas e regularizadas durante o sono. Estas hormonas, além de outras funções, são responsáveis pela vasoconstrição [contracção dos vasos sanguíneos]. Quando a pessoa dorme pouco ou mal, estas hormonas aumentam, provocando uma contracção cada vez maior nos vasos sanguíneos, aumentando a pressão sanguínea, o que faz com que a tensão arterial aumente, conduzindo a um caso de hipertensão arterial.

Outros Problemas Cardiovasculares. Para além da hipertensão arterial, outros problemas cardiovasculares podem surgir devido à privação do sono, como é o caso das arritmias [quando o coração não bate num ritmo certo]. Dormir pouco ou mal faz com que os impulsos eléctricos responsáveis pelos batimentos cardíacos fiquem desregulados o que, a longo prazo, pode levar ao aparecimentos de arritmias que, por sua vez e em conjugação com outras condições, podem conduzir a outras doenças, como a insuficiência cardíaca.

Obesidade. Outras hormonas que são regularizadas durante o sono são a grelina [responsável pelo apetite] e a leptina [responsável pela saciedade]. Durante o sono, o nosso organismo diminui os níveis de grelina e aumenta os níves de leptina para os seus níveis óptimos. Ora, quando a pessoa não dorme ou dorme mal, a regulação dos níveis destas hormonas fica completamente comprometida, podendo haver aumento da grelina e diminuição da leptina, o que faz com que a pessoa tenha um apetite voraz e nunca se sinta saciada. A longo prazo, isto pode ter consequências graves, como é o caso da obesidade.

Diabetes tipo II [por resistência à insulina]. Há estudos [realizados na Universidade de Chicago] que apontam a privação do sono como responsável pela alteração do mecanismo dos ácidos gordos e pela redução da capacidade da insulina para regular os níveis de açúcar no sangue. Os mecanismos que fazem com que isto aconteça são um pouco complexos, pelo que deixo apenas a ideia de que a privação do sono e a desregulação hormonal provocada pela mesma leva à resistência das células à insulina e, consequentemente e a médio/longo prazo, ao desenvolvimentos de diabetes tipo II.

Sistema imunitário debilitado. O nosso sistema imunitário é constituído por um conjunto de células específicas, uma espécie de “super-agentes” que defendem o nosso organismos de agentes externos e das infecções provocadas pelos mesmos. Uma vez mais, é durante o sono que estas células são produzidas em maior quantidade. Assim sendo, quando não dormimos o suficiente, a produção destas células fica comprometida, logo o nosso sistema imunitário fica mais frágil, não nos protegendo adequadamente contra agentes infecciosos.

Maior sensibilidade à dor. Durante o sono, são regularizados os níveis de neurotransmissores responsáveis pela activação dos impulsos nervosos que desencadeiam a dor. A privação de sono faz com que estes neurotransmissores fiquem completamente desregularizados, o que faz com que a sensibilidade à dor aumente. Para quem tem dor crónica pode comprovar que dormir pouco ou mal faz com que a dor seja ainda maior, daí haver esta relação directa entre a privação do sono e a hipersensibilidade à dor.

Problemas Neurológicos. O nosso cérebro possui um sistema responsável pela eliminação de resíduos e toxinas – o sistema glinfático. Está cientificamente provado, através dos estudos da Dr.ª Nedergaard, que este sistema funciona muito melhor durante o sono. Além disso, o principal resíduo eliminado por este sistema é a beta-amiloide [proteína que se acumula no cérebro dos doentes de Alzheimer]. Atenção que não há ainda uma relação directa entre a privação do sono e a maior probabilidade de desenvolver a doença de Alzheimer, no entanto, há estudos que estão a ser realizados nesse sentido. A ideia que quero que retenham é que dormir é importante para a eliminação de toxinas no nosso cérebro, toxinas essas que podem desencadear doenças neurológicas.

Depois desta pequena tomada de consciência, talvez seja benéfico reflectirmos um pouco sobre os nossos hábitos de sono e sobre a sua importância para uma vida mais saudável e equilibrada.

 

Nota sobre a autora

Chamo-me Catarina Vasconcelos, tenho 31 anos, sou enfermeira de profissão, terapeuta holística por vocação e escritora por paixão. Quis o destino que tivesse a imensa sorte de poder conciliar estas três áreas no meu trabalho actual. Depois de ter exercido enfermagem durante oito anos, e depois de um quadro de doença que me obrigou a parar e a repensar toda a minha vida, decidi dar asas às minhas grandes paixões e agarrar a vida por inteiro. Fui estudar terapias energéticas/holísticas, comecei a tirar os meus textos e crónicas da gaveta para mostrar ao mundo e, aos poucos, estou a tentar construir um conceito diferente de exercer a minha profissão, integrando nela todas as minhas paixões. Desta forma, nasceu o meu blogue Serenamente, onde partilho dicas de saúde, terapias e reflexões para uma vida mais saudável, serena e feliz.

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