Piódão, seu lindo!

Sou do interior. Amo o interior. Vivi uns meses na capital e jurei a mim mesma que queria viver todos os meus dias no interior.

Quase, todos os anos, tentamos fazer uma viagem em família. Tendo em conta que os miúdos (falo dos meus irmãos, sou a mais velha) lá de casa já não são miúdos. Tem se tornado difícil, conciliar agendas e vontades.

 Saímos de Viseu e fomos em direção a Piódão. A minha mãe tinha acompanhado as sete maravilhas de Portugal – aldeias. E amou o que viu na televisão. Os miúdos acharam ok. E eu estava ansiosa. Em primeiro, porque amo aldeias pitorescas, amo interior, amo passeios em família em especial daqueles em que vai o farnel na cesta de vime.

Desta forma, lá fomos nós a serpentear as estradas que esventram as vísceras deste recanto de país que devia ser mais (re)conhecido. A estrada é desafiadora. Quem ama e está habituado a autoestradas e ICs ou Ips vai sentir o desafio e vai sair da zona de conforto. É uma sucessão de curvas e contracurvas, muito ao estilo da estrada para a Serra da Estrela. Se esta referência ajudar.

Piódão fica a 40 quilómetros de Arganil, mas a sua mística parece atirar-nos para uma distância, daquelas que não se quantifica em quilómetros.

Feita a estrada, que só por si nos atira para uma paisagem gigantesca e nos rouba o olhar, o coração e a alma. Impossível não perceber a magnitude da natureza. Pinheirais em escarpas de cortar o fôlego, ponteados por pequenas povoações. É nestas alturas que me arrependo de ter decidido ser a condutora de serviço.

Entramos numa espécie de vale encantado. Não estou a usar uma figura de estilo. É real. Parece que cada pedra foi colocada com um sentido, com uma ordem. Imaginamos alguém que pedra por pedra, dia por dia foi edificando as várias casas. Nas encostas das montanhas, casas de pedra escura parecem empilhar-se, literalmente. Protegidas do vento das serras. Sentimos a tranquilidade. Vivemos as cores escuras das paredes, vibramos com os contrastes azulados dos contornos das portas e das janelas.

Não vamos encontrar, o que se espera de pontos muito turísticos. O que é delicioso. Talvez o Largo Cônego Manuel Fernandes Nogueira, nos remeta para esse campo. Com as lojinhas de artesanato local. Ou a Igreja de Nossa Senhora da Conceição (Igreja Matriz) que é o edifício que mais se destaca mal se chega a Piódão. As suas paredes brancas, embora mantendo os típicos apontamentos em tons de azul, contrastam com a cor de terra dominante das restantes casas da aldeia. A sua origem data do século XVIII tendo, no entanto, sofrido obras de remodelação ao longo dos anos. Contudo, tudo o resto não está à “nossa espera”, está na sua vidinha de sempre. Os habitantes são gentes simples e acolhedoras que vivem as suas vidas e que gostam de ver a máquina a fotografar o seu tesouro. Contam a história daquele recanto como aquele orgulho de quem faz parte de algo enorme.

A piscina natural é uma verdadeira delícia. Água límpida e gelada. Que arrefece a alma, depois da caminhada pelo interior da aldeia numa tarde quente de setembro. Aquele banho gelado parece que nos rejuvenesceu.

Segue-se o pic nic. Nós levamos cesta para comer e toalha aos quadrados estendida no meio do chão. Garanto que não há melhor forma de saborear a comida. Deixo a nota, já sabemos que não há melhor sítio no mundo para comer que no nosso retângulo. Por isso há que provar a famosa broa de batata, o queijo da serra, os vários licores ou alguns pratos típicos como a chanfana ou as trutas grelhadas.

                Em bom rigor não há orientação ou dicas certas para ir a Piódão, o que é obrigatório é perderem-se no vale encantado, quanto mais se perderem mais beleza encontram.

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina.  

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária. 

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