Pela Pátria em casa ficar!

Os homens de Roma achavam bizarro que em séculos de guerra os lusitanos apenas tivessem sido liderados fugazmente por Viriato, permanecendo ao longo dos tempos, apenas habituados àquilo que hoje se chamaria o regular funcionamento das instituições. Foi então, que Júlio César, já sem paciência e arrependido por ter posto pés em tal recanto desabafou, ‘Há nos confins da Ibéria um povo que não se governa nem se deixa governar’. 

Sempre fomos os aventureiros, o que nos lançamos “em mares nunca antes navegados”. Sempre fizemos á nossa maneira, sem grandes planos, sem grandes esquemas…uma espécie de “logo se vê” ou, “depois a gente desenrasca!”. De facto, poucos percebem o nosso plano.

O nosso plano não obedece a régua e esquadro, não tem fórmulas matemáticas. Tem alma. O que já nos salvou e também já nos condenou! Somos descendentes dos que ficaram apenas com as côdeas de pão para que os navios fossem carregados de mantimentos para os heróis. Descendemos dos que com a experiência criaram um conjunto de objetos de navegação, somos o que revolucionaram a forma de fazer comércio, descendemos dos primeiros que sonharam em ligar o mundo. Se foi esse o plano traçado? Não. Apenas uma vontade de saber o que estava do outro lado para lá da linha do horizonte e depois “logo se via”.

Esta garra, está cá! Basta arregaçar as mangas, não peçam ao português para arregaçar as mangas. Quando o fizerem vão conhecer a nossa alma.

 Sempre reclamamos com quem nos governa, sempre achamos que tudo estava mal, sempre achamos que temos mais maleitas que o vizinho…Porém, quando nos chamam não faltamos. Estamos lá todos! Abastecemos a casa do vizinho, cantamos o hino, batemos palmas à janela, estendemos a bandeira. Aprendemos a viver com menos ordenado e para contornar isso transformamos o hobbie em negócio. Abrimos o país ao mundo e mostramos os nossos recantos, o nosso fado, as nossas varandas com sardinheiras, o nosso pastel de nata e o nosso bacalhau. Mostramos a nossa maresia, o nosso céu azul e a nossa hospitalidade. Somos uma casa a céu aberto onde todos se sentam e comem à mesa numa sinfonia de sons, sabores e cores. Ninguém gosta de abandonar a nossa mesa!

Agora vem outro desafio! Estão a pedir-nos para arregaçar as mangas!

Aos portugueses, novos e velhos, senhores ou senhoras, é-lhes pedido que fiquem em casa! Apenas isso. Fiquem em casa. Desfrutem de todos os metros quadrados que pagam e que muitas vezes usa apenas para dormir. Desfrutem dos seus. Passem tempo de qualidade com os seus. Telefonem aqueles a quem tem vindo a adiar telefonema. Arrumem as gavetas que tem desarrumadas. Destruam o monte da roupa para passar. Façam um bolo em família. Ponham a família a cozinhar e a desfrutar de pratos elaborados. Comecem a fazer yoga. Comecem a ler a pilha de livros comprados na feira do livro de 1999.

Somos constantemente insatisfeitos. Algo que é tão benéfico quanto destrutivo. Ainda corria fevereiro e já todos corríamos contra o tempo. Já todos desgastávamos a desculpa do sem tempo! Agora, que nos dizem que podemos/devemos abrandar já estamos a bradar aos céus que estamos fartos, que não aguentamos…

Somos naturalmente insatisfeitos! Para continuarmos a alimentar este nosso bichinho carpinteiro, precisamos de destruir o bicho invisível. Que não haja dúvidas que são tempos difíceis, tempos de guerra. E que se espera desses tempos? Do espírito heroico dos lusitanos. Do nosso espírito de sacrifício. Da nossa entrega à causa.

Depois, voltaremos a estender a toalha e a receber todos à mesa, com o nosso melhor. Vamos sentarmo-nos à mesa, exaustos do trabalho, com as mãos calejada e o suor a escorrer na testa. Vamos abrir o pão e colocar a sardinha dentro, trincamos e deixamos escorrer o molho enquanto mandamos calar os putos e gritamos goooolo!

O céu azul lá vai estar, à nossa espera e a iluminar a mesa com a toalha quadriculada que recebe a família, os vizinhos e os amigos…

 

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina.

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária.

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