Pela Cultura

Quem me conhece sabe que as artes têm uma importância enorme na minha vida. Nem todas têm o mesmo peso, umas percebo melhor que outras, mas não imagino a minha vida, sobretudo, sem música, sem cinema e sem teatro. Esta pandemia veio, entre outras coisas, alterar por completo a minha forma de me abstrair da realidade. Confinada em casa, sem poder estar com amigos, sem poder assistir a um espectáculo, ir a um concerto ou ver uma exposição, restou-me a boa velha TV e… o telemóvel. Claro que adversidade da situação em que todos nos encontramos, fez com que os artistas tivessem mais tempo para fazer aquilo que melhor sabem: criar. Surgiram músicas sobre o momento que estávamos a passar, festivais online com transmissão nas redes sociais para que o nosso isolamento não fosse tão vazio onde os nossos músicos nos ofereceram concertos em que se notava, claramente, que lhes faltava o aplauso entre as músicas.

Houve páginas de Instagram criadas para publicar pequenas curtas sobre o período da quarentena, em que todo o processo de criação foi feito em casa de cada um dos intervenientes, desde a escrita do argumento, passando pela realização, edição e o desempenho dos atores. Houve também uma pergunta que nos acompanhou durante dois meses, nas noites dos dias úteis, que se tornou um fenómeno e que vamos relembrar para todo o sempre: “Como é que o bicho mexe?”  Mas sobre isso, já se disse (quase) tudo e até eu já tinha prestado a minha devida e merecida homenagem ao autor, em tempo e em sede própria. Houve reinvenção, houve criatividade e houve espetáculo.

O isolamento social permitiu que a correria dos dias abrandasse. Quem tinha um trabalho que lhe permitisse continuar desde casa, continuou a fazê-lo e a sua “aparente” normalidade continuou, embora com sucessivos desafios diários, como ser professor/pai/doméstico a tempo inteiro. Mas aqueles cujo ofício depende da presença do público, pararam. Não estou falar só da face mais visível. Falo de toda a equipa que está por trás e que os faz brilhar. Há pouco tempo, vi um post indignado, porém assertivo, da Carolina Deslandes em que ela se insurgia contra o facto de uma publicação ter usado uma foto dela para ilustrar uma notícia que dava conta de que a Ministra da Cultura dizia que os concertos gratuitos nas redes sociais tinham de acabar. Revoltada, Carolina Deslandes esclarece que só por uma vez atuou gratuitamente, num festival transmitido em directo das páginas dos artistas no Instagram, e que não o fez mais “por princípio e respeito ao meu setor e à minha equipa” [sic]. A artista diz mesmo que “TODOS os concertos diretos que fiz no Instagram foram associados a uma marca, foram pagos e o cachet foi DIVIDIDO pela minha equipa“.

Carolina é a cara que todos nós conhecemos, que seguimos no Instagram e que nos embalou em vários momentos, alguns deles, aliás, durante esta isolamento, mas atrás dela está uma banda, estão técnicos e está uma produção. Esta equipa está parada e vão continuar porque não vão haver concertos da Carolina este verão e, quem sabe, este outono. Esta equipa não tem trabalho. Esta equipa é uma família que tem outra família que precisa de comer. Multipliquemos esta equipa por todas as outras que trabalham com outros cantores e bandas. E pelos que trabalham em teatros, em cinema e na produção de eventos… É apenas matemática, mas estas pessoas são mais que um número. São mais que a cara bonita que seguimos nas redes sociais. Estas pessoas ajudam outras a fazer-nos sonhar. A esquecer um pouco a realidade e a viver outras vidas, noutros mundos. Estas pessoas precisam que pensemos nelas quando virmos o nosso ator preferido atuar ou quando ouvirmos a nossa música favorita tocada ao vivo. Estas pessoas são como nós. Têm é o privilégio de trabalhar iluminados pelo brilho das estrelas. Mas a luz não alimenta…

Tenho escrito em vários sítios que um país sem cultura é um país pobre. Pobre de espírito, de ideias e de liberdade. Não quero viver num país que não pensa, que não questiona, que cala e consente. Que não protege os artistas e quem os acompanha, porque a companhia que nos deram durante este tempo paga muito mais aquilo que já pagámos para os ver. Por isso, assino e assinarei qualquer manifesto/petição que proponha a defesa deste setor, como um todo, todos seus agentes e todas as suas formas de expressão. Por todas aquelas pessoas, mas também por nós, público que tanto precisamos de esperança e de fantasia. Palavra de uma actriz frustrada, escritora escondida e apaixonada pela Arte!

Nota sobre a autora

Olá, o meu nome é Tatiana Mota e passei ao lado de uma grande carreira na TV e na rádio. Como podem, aliás, ver neste vídeo de 35 segundos que realizei para um passatempo, e onde se denota grande talento de atriz (cof… cof…).

Para além disso, e para não passar ao lado de uma grande carreira na escrita, tenho vindo a desenvolver esse skill não só em publicações de informação cultural, como a LeCool Lisboa, mas também na nouvelle plataforma Reveal Portugal , sem contar também que sou foodie na Zomato.

Se tenho Instagram e Facebook? Claro que sim: no Insta – como dizem os jovens – e na xafarica do Sr. Zuckerberg, estou como sou, sem maquilhagem, em Alta Definição.

Atualmente, não tenho blog – mas já tive – e influencer, só se for a influenciar os filhos das minhas amigas a serem do Benfica. Penso estar a fazer um bom trabalho nesse sentido.

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