O cheiro das romãs

 

No Dia de Reis chega-me sempre o cheiro das romãs e a memória de uma tradição alentejana cumprida diligentemente pela minha querida avó Manieta, herdeira praticante das melhores tradições e superstições dos montes de Montemor-o-Novo.

No dia de Reis, em solene silêncio, arranjávamos a romã, retirando-lhe as peles brancas. Depois escolhíamos seis bagos bonitos e juntando uma moeda de um escudo, embrulhávamos tudo em papel de prata. Cada um escondia o seu tesouro, longe de olhares alheios. A sorte era certa, para o ano que se estreava.

Há uns meses, em visita à minha avó (99 anos!), encontrei dentro de um livro um dos meus tesouros.

A minha infância e os meus dias mais felizes, ali, a recordarem-me, num pequeno embrulho de prata, que os momentos bons desta vida, se é certo que nunca mais regressam iguais, certo é também que já ninguém no-los tira.

E que desde que não os esqueçamos… Serão eternos.

 

in “Deve Ser Isto O Amor”

Rita Ferro Rodrigues

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