O assombro da memória

 

Costumo refletir imenso acerca da importância da memória na nossa vida.

Na verdade, se uma parte substancial dos nossos pensamentos diários diz respeito às nossas expectativas futuras, é certo que uma parte significativa recupera acontecimentos de um passado recente ou memórias mais distantes no tempo. Nós somos as nossas memórias, somos a impressão que os acontecimentos nos causaram, o que aprendemos, aquilo de que temos saudades e recordamos com gosto, mas somos também as memórias mais difíceis, que ainda hoje nos causam dor. Nunca, porém, nos recordamos sozinhos. Os outros, a família e os amigos, os conhecidos, e mesmo os desconhecidos que alguma vez trocaram um gesto e uma palavra, fazem parte dessas memórias.

Hoje, quando a vida ainda brilha esplendorosamente, a memória vai sendo enriquecida todos os dias, com novas experiências de vida. Haverá um dia, quando as forças faltarem, em que a memória será quase tudo o que temos para tornar o nosso quotidiano mais suave.

E a memória faz-se hoje. Temos de cuidar dela hoje. Com efeito, os afetos que cultivamos hoje serão aqueles de que nos lembraremos amanhã.

Acredito que, quase sem darmos conta, as nossas memórias vão sendo construídas de forma contínua. Não surgem do nada, mas sim da forma como comprometemos a nossa vida com cada hora dos nossos dias, cuidadosamente, enquanto tecemos teias de emoções e afetos capazes de preencher a vida, que nem sempre é fácil e nem sempre é doce. Esta construção, revelada em cada um dos nossos momentos, nunca se acaba, pelo menos enquanto viverem as pessoas que tão perto chegam ao nosso coração.

Todos seremos construtores de memórias e afetos, sobretudo de memórias dos afetos.

 

Nota sobre o autor

Chamo-me José Rodrigues, tenho 49 anos, casado e pai de dois filhos lindos. Sou consultor, formador e lidero uma empresa de consultoria que formei há 20 anos.

Adoro escrever. Talvez por servir para exorcizar todos os meus fantasmas. Talvez porque o meu mundo profissional, tremendamente ligado a números, faça com que muitos dos meus dias e noites se acalmem através da escrita. Tenho dois romances publicados e no mercado ( “O Rio de Esmeralda” e o “Voltar a Ti), mas antes deles escrevi um outro ( “Boas memórias de um mau estudante”) acerca do tema que mais me fascina e que me faz seguir atentamente o Elefante de Papel – a memória!

Todos os dias escrevo sobre quase tudo o que me vem à cabeça ou me preocupa.

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