Não consigo respirar

Não consigo respirar. O teu joelho é frio como o ódio e é escuro como a tua alma. Isso mata, sabes? O meu pescoço é frágil e o chão arrefece a minha pele. Roubas-me a voz e a esperança, enquanto me levas a vida e me apagas os sonhos. Como uma rajada de vento levas todos os pedaços de ser, de forma súbita, para nunca mais trazer.

Como eu queria que tivesses visto a beleza do sol, para que não me matasses. Que o tivesses deixado brilhar em todos os teus dias, em todos os teus passos, mesmo naqueles instantes em que as tempestades surgem num horizonte que pensas ser diferente do teu.

Queria, também, que tivesses coração. E que ele não parasse de bater, como o meu agora irremediavelmente está a parar. Se realmente o tivesses dentro do peito, talvez a cor dos teus olhos e da tua pele fosse a mesma da tolerância e da paz. Duas palavras que não chegaste a conhecer, mas que são tão contagiosas como o amor ou a alegria de viver todos os instantes que a natureza traz a cada fração de segundo.

As minhas pernas fraquejam, o meu corpo dói mais e mais e o meu rosto está à tua mercê, para fazeres dele o que muito bem entenderes. Enquanto isso acontece, quero que sabias que já não vou ter tempo de sentir saudade. Dos meus amigos e da minha família. Também do mar e da música, da montanha e do lago de água transparente. Até mesmo da lua que todos os dias me guiava a caminho de casa, sem se importar do meu estado de humor.

Não consigo respirar. Talvez por isso veja o céu a escurecer em plena luz do dia, mas acredito que ele amanhã voltará a ser azul. Acredito também que as nuvens continuarão a chegar em silêncio e, também por isso, o homem continuará a sonhar de forma colorida e livre.

Não aguento mais. Vou fechar os olhos, porque me mataste.

A vida levou-me a vida e a morte trouxe-me a morte.

José Rodrigues

Partilhe nas Redes Sociais
FacebookTwitterPinterest

Deixe uma resposta

* Campos obrigatórios