Mouraria

 

Na Mouraria o tempo não corre; corre a tradição. Há sempre alguém que passa. Há sempre alguém que vê.

Sob estendais de fé ao vento sujeitos, erguem-se as fatigadas vidas de quem já pouca vida tem. Chora-se por quem já cantou esta rua, saudosos, não das canções mas daquele tempo. Em que as janelas se abriam. Em que a subida se fazia em passos certos. Em que se corria atrás da alegria. Agora, todos se encontram na tristeza, no ir e vir dos que cá ficam pouco tempo. No cimento que traz a novidade indesejada e línguas nunca faladas. Agora, soluça quem cá está, angustiado pelas novas tradições e por não ser mais a guitarra a soluçar.

O encanto de se sentir Lisboa como coração ainda permanece quer seja pela saudade que exalam todas as modernas concepções quer pelo triste cantar dos rouxinóis. Mas ainda resta a magia de se pensar nos amoures, no feitiço de os querermos todos e que todos habitem em cada persiana que se abre.

E são os telhados de memórias. Cada som de cada passo na calçada. Cada olhar de tamanho ruído. Cada folha de paixões antigas que se sentam em longos bancos. Cada barulho da cidade que se aqui se esbate como um muro de sonho. Como é gigante sentirmo-nos pequenos. Prendermo-nos na roda de uma bicicleta E ficar. No silêncio de candeeiros que alumiam cada alma perdida. No tic tac de relógios sem tempo, na visão de um jasmim que perfuma o Fado que passa. Na Mouraria. Onde me perderei todos os dias no dolente soar de cada dia.

 

 

Nota sobre o autor

Emanuel Silva. 25 anos.

Técnico de gestão do conhecimento.

Escrevo pela companhia que as palavras representam. Para evitar a solidão e poder partilhar numa folha branca o que bem entendo. Escrevo para abraçar o Mundo sem ter de o tocar. Escrevo porque sou humano. [email protected]

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