Meus queridos colegas humanos, o que andam a fazer?

Eu lembro-me de ouvir a minha mãe contar que no seu tempo de criança, havia a fila para o leite. Os irmãos mais novos vestiam a roupa dos mais velhos, não tinham televisão e muitas vezes para comer fruta tinham de “roubar”, no quintal do vizinho. Os meus avós e os meus pais são do tempo de dividir uma sardinha por três. Eu sei que não era assim para todas as famílias, mas a dos meus pais era pobre.

A minha mãe sofreu com a vida, vivia em Lisboa na fonte luminosa em criança, mas o meu avô deixou a minha avó com 8 filhos para criar. Esse episódio mudou o rumo da vida da minha mãe e consequentemente a minha também.

Os meus pais começaram a trabalhar em tenra idade e na altura deles, a vida era feita de uma forma programada, como, trabalhar para ajudar a família, casar, ter filhos, trabalhar para pagar a casa e ter sempre comida na mesa. Chegar à reforma, criar os netos e esperar a morte. Não se viajava, não se tinham hobbies e não se ia jantar fora porque era desperdício de dinheiro.

Durante a quarentena, que nos obrigou a parar, e isolou, voltámos a ter saudades de coisas, que no dia-a-dia e por falta de tempo não valorizámos.  Dei comigo a pensar o que foi a vida dos meus avós e dos meus pais, que passaram por uma guerra e sentiram a falta de bens essenciais como consequência dessa mesma guerra. Quando me deparei com o pânico das pessoas, as prateleiras vazias e a fila do supermercado lembrei-me da fila do leite que os meus avós e a minha mãe falava e nas minhas caminhadas matinais, percebi que nunca parei para ouvir e sentir o quão difícil foi a vida deles. Percebi que não sabia pormenores importantes de pessoas que já não estão fisicamente na minha vida.

Porra para a idade que nos traz maturidade, entendimento e arrependimentos.

Urra para todos que crescem, tiram lições durante períodos menos bons, e trabalham sempre para a evolução espiritual, porque o individualismo tomou conta de nós humanos.

Confesso-me bastante indignada e preocupada com o futuro. Com o crescente racismo, com a homofobia, com a falta de compreensão por pessoas com gostos e estilos de vida diferentes de nós.

Confesso-me horrorizada com a eleição de líderes políticos, que pertencem a um grupo de pessoas destrutivas, que trazem dentro deles todos os preconceitos, instigam ao ódio em vez de promover a educação e a paz, são machistas, misógamos e ameaçam tirar a nossa liberdade, assim tivessem poder para tal. Todas as gerações já passaram por momentos parecidos e até mais dramáticos, mas a questão aqui é o facto de estarmos no século XXI, no ano 2020 e sem perspectivas de aprender lições com os nossos antepassados.

Precisamos de união e ouvir o próximo, mas o problema em ouvir os outros, é porque simplesmente, não o fazemos. Existe muito barulho nas nossas cabeças e por isso, não temos tempo de ouvir o que nos dizem nas entrelinhas. Primeiro estamos ocupados a ser crianças e a descobrir coisas novas, depois estamos ocupados a passar de adolescentes a adultos e tudo gira em torno de nós e quando estamos embrulhados na nossa vida adulta, partem familiares importantes e depois não há como voltar atrás e recuperar o tempo perdido.

Mas existe uma sincronicidade que liga todas as coisas e que é uma das maneiras que o universo usa para comunicar connosco. É importante sentar os filhos com os avós para ouvir histórias e detalhes da suas vidas e é importante que os filhos saibam o que nós fomos e como chegámos aqui. Porque devemos defender e honrar os que lutaram por nós.

Nesta altura de pandemia, talvez agora a nossa jornada seja sobre estarmos sozinhos. Talvez seja uma altura em que estamos a ser colocados à prova para percebermos o que é acordar de manhã e não conseguir beijar e abraçar, os que mais amamos, para que se encontre esperança e paz, na calma e no sossego. Esperança que vamos exigir de futuro tempo só para nós, tão difícil de conseguir na correria e obrigações do dia-a-dia. Talvez agora cada um de nós esteja a revelar ao mundo , que podemos tomar conta de nós e que podemos ser várias coisas e não somente quem a sociedade quer que sejamos. E principalmente, que nós podemos superar tudo, independentemente do que se colocar no nosso caminho.

A vida tal como o amor, é dos corajosos, dos que sabem que ninguém é feliz com medo, dos que engolem orgulhos e egos. A vida, tal como o amor, é dos que fazem a estrada parecer mais fácil, porque na vida, tal como no amor, tudo é uma questão de escolha.

FROM DAISY WITH LOVE

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2 comentários em “Meus queridos colegas humanos, o que andam a fazer?

  1. Sim tudo o que acabei de ler é a mais pura verdade!
    O meu pai falou inúmeras vezes na sardinha que dividia com os sete irmãos, eu também já estive na fila para o pão, para o bacalhau. Cheguei a ir comprar tabaco para o meu pai, que devido a não haver, só vendiam seis cigarros por pessoa, etc.
    Mas tenho que admitir que esta guerra é muito mais complicada, porque desta vez é Mundial e é preocupante..

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