Memória

E se, de repente, tudo deixasse de existir? E se, de repente, tudo te deixasse de fazer sentido? E se, de repente, tudo, mas mesmo tudo, num ápice, se apagasse? A tua memória pregava-te uma rasteira e tudo deixava de ser!

Às vezes andamos na Vida como um rótulo de garantia vitalícia. Percorremos os dias a achar que assim o faremos para sempre. Distraídos e arrastados por massas. Muitas vezes assolados pelo medo. O medo de fazer diferente. O medo de ser diferente. Caminhamos na Vida como num “para sempre” e nem nos lembramos que não é assim.

Somos feitos de imensa coisa. Somos partes de um todo que se quer íntegro, mas também original. Somos feitos de cada passo. E de cada passo dado fazemos uma memória. Uma memória que nos causa sensações. E que vai fazer parte de nós. Mas e se tudo se apagasse? O que iríamos nós recordar? O que iríamos nós sentir? O que seria de nós e de que seriamos feitos?

Há memórias duras. Que nos relembram a luta pela qual passamos. O muro alto que tivemos de ultrapassar. Mas há também memórias boas. Tão boas! Que nos relembram quem somos. Que nos acariciam e nos mostram que somos capazes. Que nos mimam e nos levam agradecer o caminho feito até agora.

E há quem passe pela agonia de perder algo que faz de nós quem somos. A memória. Há pessoas que a perdem e que quem a tem, tantas vezes, desvaloriza. Há a angústia de perder o fio condutor que nos leva lá atrás. Há a fragilidade de quem somos ficar pelo caminho. São tantos os que por aqui passam. E são tantos os outros que se esquecem destes tantos, e de perceber que na Vida nada é para sempre. Hoje foi ele, amanhã posso ser eu. Que frágeis são as coisas simples da Vida. Que simples é o nosso não controlo nisto. E que bom que é podermos usar – e abusar – da nossa memória. Aceder a cada ficheiro e ter a oportunidade de o deixar fazer parte de nós. Sem a necessidade de o editar. E somente na visualização poder fazer daquela memória, a melhor possível. Simplesmente porque ela existiu e porque agora eu posso deixar-me levar até ela. E me lembrar que há quem não o possa mais fazer. E tudo deixou de existir!

Nota sobre a autora

Eu sou a Carla. Tenho 32 anos e sou do Norte.
Sou autora do blog “omeuamigolucas.wordpress.com” e sou produtora de conteúdos.
Sempre escrevi. Em pequena fazia-o em diários. Com o passar dos anos deixei o diário e adotei as folhas soltas. Retomei agora, mas na forma de blog. Acredito que a escrita é uma forma de terapia e de transportar mensagens. Terapia para quem lê e para quem escreve. E de ligação. Ligação que permite a quem lê sentir quem escreve e a quem escreve sentir quem lê.

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