Madeira (parte 1): O voluntariado

Há muito tempo que queria fazer voluntariado e a oportunidade de ir fazê-lo para a Madeira foi muito bem recebida. A verdade é que não precisamos de sair da nossa cidade para fazer voluntariado, aliás, não precisamos sequer de sair da nossa casa. A ajuda diária que prestamos à família, aos amigos e até a estranhos é a forma mais pura de voluntariado que existe. Mas a verdade é que, para além de ter muita vontade de visitar a Madeira pela primeira vez, também achei que fosse uma boa oportunidade para sair da minha zona de conforto. Uma semana de voluntariado, a fazer coisas que nunca tinha feito com pessoas que não conhecia e sem hipótese de voltar atrás ou desistir pareceu-me, um bom desafio. Fui com doze raparigas aproximadamente da minha idade (19 anos) e só conhecia uma delas. Fiquei em sítios que não conhecia, com pessoas que não conhecia e adorei cada minuto dessa partilha. Estarmos, de certa maneira, obrigadas a conviver e a auxiliarmo-nos mutuamente foi uma boa forma de nos conhecer e criar laços e histórias que só nós partilhamos.

O voluntariado começou dois dias depois de termos chegado à ilha. Depois de nos conhecermos todas e visitarmos o sítio onde íamos ficar na semana seguinte, começámos com a nossa experiência. As atividades que exercemos foram variadas e a fundação onde nos apresentámos albergava um lar e um infantário. No lar, o nosso objetivo era muito simples: estar presente. Ajudar naquilo que fosse preciso, falar com as pessoas, dar-lhes alguma atenção e animação. Tornar os dias dos utentes um pouco diferentes e mais alegres do que o habitual. O lar estava em excelentes condições e agradou-me a escolha de cores alegres que tentava contrariar o habitual ar pesado dos lares. No infantário, foram-nos atribuídas duas salas que tínhamos de restaurar. Duas salas que precisavam de ser lixadas e pintadas e cujo produto final seriam salas de aula para crianças autistas. Fiquei algo apreensiva. Se nunca na vida tinha pegado numa lixa, como é que ia renovar duas salas? O importante naquele momento foi saber que não estava sozinha. Que nenhuma daquelas raparigas tinha também pegado numa lixa, mas estava lá quem me fosse ensinar a fazê-lo. E muita paciência tiveram os senhores das obras connosco… A verdade é que aqueles dias em que carinhosamente gostávamos de dizer que íamos para as obras, foram muito divertidos. Aprendi assim lixar e a pintar paredes como gente grande e claro, devemos ter gasto mais tinta a pintarmo-nos umas às outras do que a pintar as paredes. Fora da Fundação, ajudámos no Centro da Mãe. Um local que aceita doações de roupa, brinquedos e outros bens de primeira necessidade para mães jovens e carenciadas. Fiquei contente com a quantidade de doações que a loja social recebia. O nosso trabalho era o de separar roupas de bebés e crianças e dobrá-la, entregando-a às profissionais que trabalhavam na loja e se dedicavam a fazer cabazes que entregavam às mães. Para além disso, houve também um dia especial dedicado às mães. Um dia em que puderam aprender a cuidar de si, com dicas de maquilhagem e penteados; onde também escreveram uma carta para si próprias para abrirem no futuro e onde tiveram uma divertida aula de zumba. A última, mas não menos importante atividade, era a dinamização de um grupo de meninas. Estas meninas fazem parte de um clube, um local onde podem ir brincar, conversar, estar umas com as outras, fazer amizades, experimentarem coisas novas… Nós ensinámos-lhes danças, fizemos jogos, desenhámos uma bandeira para o clube, fizemos um masterchef onde elas aprenderam a fazer bolo de bolacha e muito mais.

Posto isto, as voluntárias não estavam sempre juntas: eram divididas em grupos e num dia estavam num sítio e no outro dia estavam noutro, num grupo diferente. Contudo, todas passaram por todas as atividades para terem um gostinho das várias experiências e receber e aprender algo diferente por cada local por onde passavam.

Foi só uma semana, mas foi cansativo. Aquele cansaço bom que gostamos de ter quando sentimos que fizemos algo importante e que nos deixou felizes e satisfeitos. Nunca tinha feito voluntariado antes. Não quero dar lições de moral a ninguém, mas gostava de deixar um conselho: fazer voluntariado, ajudar o outro é das melhores sensações na vida. Quando damos aos outros sem esperar nada em troca, quando sentimos que a nossa ajuda vai melhorar e mudar a vida de alguém. O sorriso na cara de quem ajudamos é paga o suficiente. Estamos ali para dar o nosso tempo, uma das maiores dádivas que possuímos, e fazê-lo com amor. Aprendemos a valorizar o trabalho de diferentes profissionais, desde o lar, às obras, pela pequena amostra que temos do trabalho que desenvolvem diariamente. Por todas as pessoas novas que conhecemos, pelas experiências e vivências que acumulamos, pelo conhecimento de novas realidades, é algo que vale a pena arriscar.

 

Nota sobre a autora

O meu nome é Maria Inês Marques, tenho 19 anos e sou estudante de Ciências da Comunicação. Desde que me lembro que sempre gostei de escrever e quis ser escritora. Com o passar do tempo comecei também a apaixonar-me pelo jornalismo. Tenho várias paixões, mas a escrita e o cinema superam qualquer uma. Para mim, escrever é a melhor maneira de expressar aquilo que sinto e penso e fazer com que a minha voz seja ouvida. Sempre que escrevo sinto-me mais feliz e espero continuar a fazê-lo durante muito tempo e cada vez melhor. 

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