Luísa
Publicado a na categoria Reflexões
A Luísa era cantora. Daquelas que fecham os olhos quando amam o que cantam. Não me lembro de quantas vezes acordava ao seu lado e a primeira coisa que queria ouvir era a sua voz. Também não me lembro de muitas mais vezes em que fui tão feliz.
Os dois éramos o coro irrepreensível de um amor tão cantado.
Os palcos não a assustavam. Cantar para milhares não a fazia tremer. Mas quando cantava para mim, bem, quando cantava para mim eu abanava por todos os lados. Chorava. Quem me dera que alguém a ouvisse como eu a ouvia.
Para mim, a Luísa era uma canção que nunca acabava. Era um amor em loop. Às vezes ficava horas a fio a cantar sozinha. Sobre terras longínquas prontas a serem descobertas por mim. Sobre fábulas encantadas onde a moral da história éramos nós.
A Luísa dizia-me que era só minha. Que sonhava. E sempre que sonhava, eu estava lá. Que eu era um pianista a acompanhar cada acorde que ela sentia. Nunca fui pianista. Mas soube amar a Luísa como Beethoven nunca soube tocar piano.
Nota sobre o autor
Emanuel Silva.
25 anos.
Técnico de gestão do conhecimento.
Escrevo pela companhia que as palavras representam. Para evitar a solidão e poder partilhar numa folha branca o que bem entendo. Escrevo para abraçar o Mundo sem ter de o tocar. Escrevo porque sou humano.