Lugares

São sete da manhã. É a hora em que os pássaros começam a chamar uns pelos  outros e o sol começa a elevar-se por de trás das colinas. É como se a natureza se estivesse a espreguiçar. O sol estende os braços dourados pera o céu, as folhas agitam-se suavemente e esticam-se para apanhar os primeiros raios.

Estava de pé sobre a erva que congelou durante a noite. Agora estava apenas húmida, com as gotículas de água a ornamentá-las, como se de um colar de brilhantes se tratasse. Adorava assistir ao nascer do sol, adorava correr pelos campos, adorava estar ali, viva, jovem, e livre, em harmonia com as suas raízes e com a natureza. Via, ainda que ao longe, a menina das tranças que saltitava por entre os caminhos estreitos. Sentia a lama que calcava com os pés descalços nos regos que conduziam a água até aos campos, para matarem a sede dos legumes que a horta acolhia.

Ali respirava sem sufoco.

Há lugares mais livres do que outros, ela sabia-o. Sabia-se livre naquele recanto que amava. Não sente saudades do passado, mas se tivesse de voltar ao passado seria aos momentos em que era apenas a menina das tranças. Aquela que subia às árvores e esfolava os joelhos, ou que fazia bolos com a lama. Voltava ao tempo em que saltava em cima da cama e dava concertos, com uma plateia gigantesca de bonecos. Ao tempo em que sonhava ser a gata borralheira e limpava toda a casa, mesmo os tijolos de barro que a lareira insistia em enegrecer. Se voltasse seria para beber cada segundo, agarrá-lo para não perder cada detalhe. Talvez deixasse o recado: “vai ficaria tudo bem podes viver sem medos”!

Hoje mulher, sabe que devia ter-se deixado ser mais menina, que não devia ser gulosa e querer crescer. Sabe que tem um percurso a correr, que muitas vezes não podemos abrandar, mas não abdica de uma pausa no seu refúgio. Não deixará de querer voltar ali onde respira por entre as árvores, onde mexe na terra. Na sua terra. Foi ali que cresceu, está ali a sua génese. Os lugares moldam as pessoas, e aquele moldou a mulher que é hoje. Há lugares que se cravam no coração.

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina.

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária.

Partilhe nas Redes Sociais
FacebookTwitterPinterest

Deixe uma resposta

* Campos obrigatórios