“Isn’t it romantic”: um cliché dentro de um cliché

Uma das mais recentes produções da Netflix, “Não é tão romântico?”, é uma comédia romântica que satiriza o género cinematográfico das comédias românticas. Realizado por Todd Strauss-Schulson e escrito por Erin Cardillo, Dana Fox e Katie Siberman, o filme conta a história de uma mulher, Natalie (interpretada por Rebel Wilson), que vive em Nova Iorque, num pequeno apartamento, trabalha numa firma de arquitetos e é uma cética em relação ao amor. Após um assalto, Natalie fica inconsciente e acaba por cair dentro de uma comédia romântica. Ao contrário da sua melhor amiga Whitney (Betty Gilpin) que vê nas comédias românticas, como Pretty Woman ou 13 Going on 30, um escape da vida real e uma fonte de sonhos e ilusões inalcançáveis, Natalie despreza-as e faz questão de apontar tudo o que há de errado com esse género de filmes e as expectativas irrealistas que elas perpetuam.  Na verdade, todos os filmes têm este maravilhoso poder de nos fazer acreditar que tudo é possível, mas também permitem-nos fugir e ignorar por umas horas (uns breves 90 minutos no caso deste filme) o mundo real que nem sempre é tão agradável como gostaríamos. Junta-se a Rebel Wilson, Adam Devine, o melhor amigo engraçado, Liam Hemsworth, o homem bonito e rico e Priyanka Chopra, a modelo deslumbrante, formando um elenco divertido e bem-parecido.

“Isn’t it romantic” pode ser dividido em duas partes: o mundo real e o mundo fictício. Estes mundos diferem até na luminosidade da própria imagem. Enquanto o primeiro é retratado de forma mais escura, o segundo é mais luminoso e claro, dando sempre a sensação de estar num sonho, num mundo perfeito, onde há flores e casais apaixonados em todas as ruas. O filme ataca todos os clichés, desde o melhor amigo gay, à rivalidade entre mulheres no local de trabalho, até números musicais espontâneos que deleitam qualquer fã de musicais (como eu). A própria banda sonora recorre de músicas típicas do género como “I Wanna Dance With Somebody”, de Whitney Houston ou “A Thousand Miles”, de Vanessa Carlton, fazendo-nos pensar (pelo menos a mim) no bom que seria se a nossa vida tivesse música de fundo. Essencialmente, a forma das comédias é sempre a mesma, uma mulher frustrada, emocionalmente ou profissionalmente, que alcança a felicidade ao encontrar o amor onde menos esperava, o que altera é o conteúdo.

As personagens são divertidas e a química entre Rebel Wilson e Adam Devine é inegável. A história do mundo fictício aborda todos os temas típicos das comédias românticas. A mulher que não se sente bonita o suficiente para ser merecedora de amor e que acaba com alguém considerado “out of their league”, como diriam os americanos, que, por ser mais bonito, rico ou bem-sucedido parece que faz um favor em estar com a outra pessoa e dar-lhe atenção. Apaixonam-se sempre por pessoas supostamente improváveis e que, se as circunstâncias fossem outras, nunca teriam acabado juntas ou a típica ideia de que “um rapaz como ele nunca vai olhar para uma rapariga como eu”, o que quer que seja que isso significa. A ideia de que a realização amorosa traz mais felicidade à mulher do que a realização profissional é outro tema tradicional. A baixa autoestima, a insegurança da mulher e a sua aparência física são temas explorados por grande parte das comédias românticas e utilizados para categorizar as mulheres entre mais ou menos merecedoras de amor. Apesar disso, pode-se considerar que este filme tem algumas tiradas feministas que se opõem a certos estereótipos atribuídos às mulheres e às relações entre elas, como por exemplo, a relação entre Natalie e Whitney, colegas de trabalho e melhores amigas, em vez de rivais. Por essa razão, é possível que a audiência (ou parte dela) se relacione com as personagens, partilhando sentimentos semelhantes.

Apesar de tudo, este é aquilo a que se chama um feel good movie, ou seja, um filme que nos faz sentir bem. Animado e colorido, “Isn’t it romantic” trata a importância do amor próprio antes de amar o outro, corroborando, contudo, a ideia de que a felicidade é atingida através do outro e do encontro do par perfeito. Não descorando a importância e a alegria do amor ao outro, qualquer que ele seja, o amor ao próprio é muito mais difícil, mas muito mais poderoso.

Tal como não poderia deixar de ser numa comédia romântica, o final é um tanto ou quanto previsível e assumidamente reconhecido e apontado como tal. É um filme divertido e fácil de ver, com uma fluidez própria que torna o filme cativante e ritmado.

Embora a intenção de tornar este filme numa crítica às comédias românticas, a crítica tende a dissipar-se e torna-se menos eficaz, porque acaba por sucumbir aos clichés e estereótipos das comédias românticas fazendo, em vez de uma crítica, um elogio, de alguma forma. Apesar do mérito, torna-se em mais uma comédia romântica, com os clichés habituais. Como comédia romântica que é, não deixa de nos fazer sorrir para o ecrã, enamorados com a perspetiva de uma história de amor que assenta na perfeição, outra meta ininteligível na vida real, mas muito badalada neste tipo de filmes. A perfeição como é representada nas comédias românticas pode ser “boa demais para ser verdade”, mas na vida real, para me socorrer de outro cliché (já que estamos nesse tópico) a perfeição pode ser encontrada nos momentos mais imperfeitos, tudo depende da forma como olhamos para os momentos que vivemos: não têm de ser dignos de uma comédia romântica para serem considerados perfeitos para quem os vive.

A pergunta que queria deixar é: será que estamos fartos de comédias românticas, dos mesmos clichés e estereótipos, não obstante a diversificação de atores nos papéis principais, ou estamos a gostar cada vez mais da ideia deste tipo de amor? Qualquer que seja o caso, podemos pensar numa comédia romântica como uma celebração do amor e, quando ele é verdadeiro e sincero, o amor é sempre bonito de festejar.  

Nota sobre a autora

O meu nome é Maria Inês Marques, tenho 19 anos e sou estudante de Ciências da Comunicação. Desde que me lembro que sempre gostei de escrever e quis ser escritora. Com o passar do tempo comecei também a apaixonar-me pelo jornalismo. Tenho várias paixões, mas a escrita e o cinema superam qualquer uma. Para mim, escrever é a melhor maneira de expressar aquilo que sinto e penso e fazer com que a minha voz seja ouvida. Sempre que escrevo sinto-me mais feliz e espero continuar a fazê-lo durante muito tempo e cada vez melhor. 

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