Insónias

Storms make trees take deeper roots”, diz Dolly Parton. Para todas as perguntas que não existem respostas, nascem inquietações errantes e tempestades dramáticas, que se dispersam pelo tempo anónimo à qual não temos manhas, ou manhãs para o despistar. À noite, quando termino a minha meditação, e penso no ato de dormir, avança-me um arrepio na medula que me paralisa a emoção e transforma-me em estátua desleixada, coberta de caganitas de pombo e desgastes de chuva. Obrigo-me a estender-me na cama, sem cobertores pesados e roupa no corpo, fecho os olhos e o remoinho chato cheio de tagarelice importuna-me o descanso. Ouço grilos pedintes, sonhos falhados e memórias papagaio. Troco de posição, de estrela do mar a equilibrista, de embrião em feto a alcatifa. Amargamente não há nenhuma que me salve, e o sono continua a não querer beijar-me. Volto a tentar, e é quando aparece uma melga, que não me larga, e nem se assusta com o meu ameaçador bater de palmas, avisando-a que a quero esmagar. O meu desespero colapsa numa tristeza vertical, à qual o corpo desacompanha, e apenas se empurra sem luz. Do quarto para o sofá da sala secundária, e desse salto para o da sala primária, mas é aí que encontro o barulho mais trovejante, o do tempo. Tenho um relógio no centro da sala que canta uma música temível, a da morte, a do tempo que se esgota a cada respirar brando. E é aí que todas as noites me questiono, “Porque é que não consigo dormir?” E ouço a resposta murmurada. “Porque tens medo de morrer… De fechar os olhos, e não acordar nunca mais.”

Nota sobre a autora: 

O meu nome é Filipa Pina. Sou aprendiz de Humano, nasci no campo, tenho 25 outonos, e formei-me como atriz. O caminho tem sido duro, solitário e longo. Sou curiosa, apaixonada e sonhadora romântica. Emigrei, trabalhei em inúmeros setores fora das artes, chorei e questionei muito o universo sobre o porquê de não conseguir um palco, e na falta de respostas comecei a desenvolver o meu caminho espiritual. Liberto-me no yoga, na corrida e no silêncio. Sou apaixonada por cinema, danço com a alma no regaço e perco-me horas nos livros que me chegam às mãos. Escrevo porque não me sei explicar de outra forma, foi a vida que me ensinou a escrever, foi a vida que me pediu que escrevesse. As palavras tornaram-se a minha casa, é na arte que sou inteiramente eu. Estou desde março a trabalhar numa caixa de supermercado, e em paralelo, a viver uma vida dupla, enquanto escrevo o meu primeiro romance. Sou da família dos pássaros sem gaiola, e dia 6 de setembro, parto novamente para o UK, com uma fúria destemida de abraçar o meu sonho, para que ele não esmoreça ou morra. A arte salva-me todos os dias, a vida por si só não me chega, preciso de poesia, do riso, da dor. Não tenho tempo para morrer. “For an artist, to be normal is a disaster.” – J.Mekas.

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