Homenagem aos avós

Os avós são seres especiais, são os eternos guardiões de chocolates e mestres das palavras mais sábias. A minha avó Maria Leonor e o meu avô Luiz, disseram-me adeus cedo demais. A minha avó Maria Leonor, foi a primeira a dizer-me adeus, guardo com carinho, a memória que tenho dela pôr as mãos nos bolsos, ou ir ao armário e tirar de lá um chocolate, como se de magia se tratasse. O meu avô Luiz, de certeza que ainda está à espera que me case! Era um homem muito elegante e com muito sentido de humor, estava sempre bem vestido e bem-disposto. Gostava de comer pão com manteiga Matinal e não dispensava o seu café solúvel ao lanche. Os meus avós, disseram-me adeus cedo demais e é sempre cedo de mais, porque a vida toda é pouco tempo para estarmos com os avós.

O meu avô Sílvio, era o benfiquista da família, bem-disposto e com uma capacidade de superação incrível. Homem de tradição, mas com a mente aberta, como poucos da sua idade. Teimoso, que levava sempre a sua avante e portador de um coração gigante. Só um ser especialmente extraordinário iria escolher ser estrela no céu no dia dos avós e não, noutro dia qualquer.

Estávamos no dia 26 de julho de 2019, levantei-me sob stress porque tinha uma entrevista. Sabia que era dia dos avós, mas tinha pensado ligar mais tarde, mal eu sabia que não iria a tempo…. Pensamos sempre que vamos a tempo, que basta ligar mais tarde, que podemos estar juntos noutro dia. Mas o tempo é fugidio, não se cansa de correr e quando damos por ela, já nos escapou por entre os dedos. A vida é assim…

Fui à entrevista, vesti uma t-shirt cinzenta, um blazer amarelo com flores, o meu preferido. E coloquei o meu colar do trevo de quatro folhas, que os meus avós me tinham oferecido. O colar estava estragado, entretanto a minha avó Alzira, mandou-o arranjar e coloquei-o nesse dia, para dar sorte. E lá fui. No meio da entrevista desatei a chorar, uma vergonha, pensava eu, nunca me tinha acontecido. E o pior é que não conseguia parar, sentia-me aflita, num sôfrego. Parecia que estava a adivinhar… Pressentimentos. Saí da entrevista e liguei a uma amiga, que tentou acalmar-me. Caminhei até ao carro, sentei-me ao volante e respirei fundo. ‘’Estou num dia mau’’ pensei eu, mal eu sabia o que o Universo tinha preparado para mim. Cheguei a casa, despi o blazer amarelo, vesti uma camisa ao xadrez, lavei a cara e fui trabalhar, a pensar que era só um dia mau. Cheguei ao trabalho e o telefone toca, era a minha mãe. Eu não costumo atender o telefone no trabalho, mas àquela hora achei estranho e atendi. Era para me dar a notícia. Naquele momento eu percebi que não ia a tempo, já não valia a pena ligar, que o meu avô não ia atender. Que não valia a pena correr, ou tentar enganar o tempo, porque não havia nada a fazer. A vida é assim, surpreendente e quando damos por ela, já tudo aconteceu e nem fazendo um negócio com o ladrão mais ágil do mundo, ele conseguia roubar o tempo. Nem o melhor corredor do mundo, o apanha. E aí percebemos. Cai-nos a ficha e metemos na cabeça que temos de aceitar e recompor-nos muito depressa, porque ainda há uma avó para quem voltar e uma família que precisa de nós. E é para aí que temos de caminhar. Caminhamos, metemo-nos numa bolha invisível e invencível e vamos. E assim foi, fui, no dia dos avós perdi um avô e consolei outro.

Nesse dia também prometi ao meu avô que tomava conta da minha avó e que ela ia superar tudo. Tem sido assim, aos poucos e poucos vamos atraiçoando a saudade.

 A minha avó Alzira é uma pessoa com o feitio especial, vaidosa e teimosa como tudo! Às vezes acredito que estamos ligadas por um fio invisível, quando uma precisa a outra adivinha. Coisas de avós e netas. Sabem?

Bem, avô, é hora de me despedir de ti, dizendo-te que estou descansada comigo mesma, que me perdoo, porque acordei a tempo de perceber que os avós são tesouros preciosos que devemos sempre guardar.  Dava tudo, para naquele dia, há um ano ter-vos ligado logo de manhã. Ainda ia a tempo. Desculpa por isso, espero que um dia me perdoes.

A ti, que estás a ler isto e que tens a sorte de ter avós, liga-lhes, antes que seja tarde demais.

Nota sobre a autora: 

Olá, eu sou a Rita Nabo António, tenho 28 anos e gosto de dizer que sou de pessoas e para pessoas. Sou feita das pessoas todas que passaram no meu caminho e sinto que a minha missão é ajudar essas e outras pessoas. Por isso segui psicologia. Sou apaixonada pela natureza: sol, mar e árvores. Adoro animais. Gosto de ler, escrever, comer e inventar receitas malucas que nem sempre saem bem! Os meus amigos dizem que escrevo como falo e às vezes parece uma confusão, mas eu escrevo com o coração.

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1 comentário em “Homenagem aos avós

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