Hoje e sempre: Liberdade!

25.04. 2020. O ser humano tem memória curta. Se dúvidas houvesse, um vírus veio para nos lembrar do que importa. O confinamento imposto por esta pandemia obriga-nos a cautelosas reflexões sobre o nosso assoberbado modo de vida. Antiteticamente, um distanciamento social físico veio atar corações, alinhar o universo, conectar o fio que nos liga. E se, ironicamente, num dia a lembrar sempre, a maioria por ventura se considera privada de liberdade, apraz-me sentir que nunca esteve tão entranhada. Poder ter a liberdade para decidir atuar de acordo com o que a nossa consciência nos diz ser certo, é ter toda a liberdade, mesmo que implique sentirmo-nos fisicamente aprisionados.

Tudo isto serve para que nunca nos esqueçamos de como chegamos aqui. O que somos hoje, a muitos o devemos. E recordar é obrigar-nos a valorizar tudo o que nos foi possível conquistar. Mesmo que nem sempre atentemos nisso, nem sempre foi assim. Somos irremediavelmente fruto desta conquista passada que se perpetua no presente. É nossa obrigação batermo-nos no presente pelo que outros tão laboriosamente conseguiram.

A política, o pensamento, os valores, a vida, a cultura ou a música constituem-se como marca de um povo e marcam de forma épica a mudança. Não esquecendo os intervenientes diretos da revolução, lembrar a exaltação deste período através das artes, é também recordar vultos incontornáveis como Sophia, Ary dos Santos, Zeca ou José Mário. É lembrar o que nunca pode ser esquecido. Porque se há legado que nos foi deixado e exemplificado na revolução de 1974, foi a liberdade de pensar. Fazer uso do pensamento crítico enquanto seres de espírito livre, rejeitar o conformismo e a subjugação ao que é tido como referência ou tendência pela maioria e lutar sempre pelos valores em que acreditamos, tornam-se como que deveres morais. Porque devemos muito a quem fez tanto. Neste tempo, como em todos, é sempre tempo de exercer liberdade. Tê-la é ter sensatez para refletir.

Liberdade é poder mergulhar num livro e criar todo um mundo novo, é poder sentir a chuva a cair sobre nós, é pisar o chão firmemente e saber que podemos decidir, mesmo correndo o risco de errar. É sentir que o presente é reflexo da história que tem sido escrita e que não pode nunca ser tida como garantia absoluta.

A tão aclamada liberdade lembra-se sempre porque não sabemos senão ser livres. 25 de Abril sempre!

Isabel Pires

Partilhe nas Redes Sociais
FacebookTwitterPinterest

1 comentário em “Hoje e sempre: Liberdade!

  1. Lágrimas e comoção! Texto guardado e partilhado. Em tempos de pandemia estou a trabalhar no hospital, a tratar os nossos doentes. Obrigada à autora e à quem o divulgou.

Deixe uma resposta

* Campos obrigatórios