He’s a Rocketman!

Amor, sexo, drogas, família, excentricidade e claro, rock and roll. Taron Egerton interpreta Reginald Dwight, mais conhecido como Elton John, numa prestação e performance extraordinárias, tal como o artista que representa. Realizado por Dexter Fletcher, Rocketman é um filme destinado aos amantes de música, espetáculo e de uma boa história, que não censura, disfarça ou esconde os problemas e dificuldades da vida do músico. O filme conta-nos a história de Elton John, uma criança tímida e pouco feliz que se revelou um prodígio no piano. Tentando contrariar aquilo que era e ascender como uma estrela, Reginald muda de nome e torna-se Elton. Contudo, um fato de brilhantes, plumas e um novo nome não são a receita para a felicidade. Esta é a prova de que podemos mudar o nosso nome ou a nossa identidade, mas muito dificilmente fugimos ao nosso passado não resolvido. Rocketman começa de maneira curiosa e pertinente, com Elton John vestido com um fato brilhante cor-de-laranja e um disfarce de diabo com asas a falar dos seus problemas num grupo de apoio de uma clínica de reabilitação e a fazer uma retrospetiva da sua vida até àquele momento. É interessante notar como o filme não demonstra apenas o vício do álcool, da droga e do sexo como um resultado da vida de estrela, mas tenta explicar o que o levou a optar por esses escapes sem os embelezar ou desculpar: o amor que nunca sentiu e nunca teve, principalmente do pai, alguma hostilidade da mãe, e os desafios que enfrentava pela sua homossexualidade, a ideia de que nunca ia ser amado como deveria ser, arranjando outras formas de lidar com isso, como ele próprio afirma no filme: “Real love’s hard to come by. So you find a way to cope without it” (o amor verdadeiro é dificil de encontrar. Por isso arranjamos uma maneira de aguentar sem ele). O filme apresenta uma dicotomia entre o presente e o passado, entre a estrela de rock que procura amor verdadeiro e a criança que procurava desesperadamente o abraço do pai. Temos numa mesma imagem aparentemente paradoxal uma paleta de cores variadas num homem de olhar triste e cinzento. O passado é representado em tons que transmitem infelicidade, enquanto contrasta com um presente policromático que, contudo, não corresponde à felicidade.

Para assistir a Rocketman, compramos bilhete para uma montanha-russa de emoções, em que choramos, sorrimos, batemos invariavelmente o pé ao ritmo das batidas contagiantes e cantamos, com os coloridos e alegres momentos musicais. Claro que podemos pensar que todos os filmes sobre as grandes personalidades da música ou do cinema têm os mesmos ingredientes e se resumem à fórmula do “sexo, drogas e rock and roll”. Sim, talvez, seja verdade, mas isso não faz com que cada história não tenha os seus contornos específicos, não havendo duas histórias iguais. Há muito mais do que apanhamos à superfície e é, sem dúvida, uma história que merece ser contada.

Os filmes biográficos apresentam-nos a possibilidade de conhecer a pessoa para além da máscara. A jornada por detrás do sucesso. O caminho até a aceitação e, eventualmente, a chegada à felicidade e a extrema importância de aceitarmos quem somos e aprendermos a gostar de nós com ou sem a máscara que nos protege. Este tipo de histórias ajuda-nos a ver, precisamente, através dessa máscara. A descobrir que por detrás dos fatos extravagantes e das performances exageradas, há uma pessoa, que sofreu e sorriu, como todas as outras. Permite-nos olhar para além do preconceito e a não julgar um livro pela capa, permite humanizar a estrela que parece tão distante, dar-lhe um passado e uma história.

Claro que estes filmes recorrem muito à teatralidade, adornam alguns acontecimentos, alteram ordens cronológicas para adicionar sentimento, erram alguns acontecimentos ou tomam a liberdade criativa de os alterar e excluem outros que podem ou não ser relevantes, mas a verdade é que, para mim, Rocketman nos mostra a autenticidade de Elton John, ao som das suas músicas como “Tiny Dancer”, “Your Song”, “I’m Still Standing”, entre muitos outros sucessos. O filme é muito mais do que uma lista de feitos e momentos da carreira do artista, é a história da pessoa, desde a infância, aos amores malsucedidos, à tentativa de suicídio, às amizades bonitas e verdadeiras que apesar de tudo perduraram (com Bernie Taupin) entre outras peripécias, que resultam em cenas marcantes, como a tentativa de suicídio na piscina da sua mansão, em frente a família, amigos e conhecidos, ou a sua atuação de “Crocodile Rock” que põe todos a levitar.

Ficamos, desta forma, a conhecer, de maneira verdadeira, criativa e simultaneamente extravagante e íntima, a história nada perfeita de um homem invulgar que se transformou num Rocketman, se tornou num ícone e numa estrela e, eventualmente, conseguiu ser feliz.

Nota sobre a autora

O meu nome é Maria Inês Marques, tenho 19 anos e sou estudante de Ciências da Comunicação. Desde que me lembro que sempre gostei de escrever e quis ser escritora. Com o passar do tempo comecei também a apaixonar-me pelo jornalismo. Tenho várias paixões, mas a escrita e o cinema superam qualquer uma. Para mim, escrever é a melhor maneira de expressar aquilo que sinto e penso e fazer com que a minha voz seja ouvida. Sempre que escrevo sinto-me mais feliz e espero continuar a fazê-lo durante muito tempo e cada vez melhor. 

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1 comentário em “He’s a Rocketman!

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