Gratidão

Caro Senhor Holder:

Não sei muito bem como começar esta carta, mas penso que é importante partilhar consigo esta informação sobre a minha filha. É importante partilhar consigo os sentimentos dela em relação a si, e àquilo que o senhor tem feito nas aulas com os seus alunos. Em apenas uma semana de aulas! Quero também que saiba como eu me sinto, enquanto mãe da Gabriela e enquanto profissional da mesma área. 

No primeiro dia de escola a Gabriela veio para casa muito contente. Falou-me de si sr. Holder, e de como o achava engraçado. Contou-me das piadas que o senhor faz nas aulas.

No segundo dia de escola ela veio para casa empolgada. Contou-me que tinha aprendido muitas coisas sobre o cérebro. Disse-me que o senhor Holder chamava o cérebro de “chefe”, porque ele manda em tudo e todos. 

No terceiro dia ela falou-me dos neurónios. Fez-me um desenho onde os neurónios eram como tomadas de electricidade que enviam mensagens secretas umas para as outras. Fez-me uma apresentação de como o cérebro envia mensagens para a bexiga e me avisa que tenho de ir à casa de banho fazer xixi.

No quarto dia ela chegou a casa a rir à gargalhada. Contou-me que o sr. Holder lhe pediu aulas de Português e Francês, e que praticou as frases que aprendeu em frente da escola toda, na hora da assembleia de alunos e professores. 

Mas na sexta-feira ela chegou a casa meio calada. Cabisbaixo. Sem grande motivação. Perguntei-lhe o que se passava. Ela disse-me que já estava com saudades de estar na sua sala de aula. Disse-me que adorava aprender consigo. Que o senhor sabe tantas coisas verdadeiramente interessantes. Disse-me que se divertia tanto nas suas aulas.

Sr. Holder, quero que saiba que não existem palavras para descrever a felicidade que me enche o peito. Eu, a mãe que já foi professora, a professora que agora é mãe, sei ver ao longe o brilho de uma estrela. Um professor que começa o ano lectivo a dizer aos seus alunos de 6 e 7 anos que “os erros e as falhas são nossos amigos”, não é apenas um professor, é uma estrela.

Ainda nestas férias de verão ela me dizia que tinha saudades de estar em casa comigo. Perguntou-me muitas vezes se tinha mesmo de voltar para a escola ou se podia voltar a aprender em casa. Tinha saudades de aprender as coisas da “nossa maneira”. Contava-me que apesar de adorar brincar com os amigos na escola, as aulas às vezes eram aborrecidas. Falavam sempre sobre as letras e os números. A professora não a deixava ler os livros que realmente a interessavam. Ela dizia ter saudades de aprender sobre outras terras e outros povos. De sentir falta de aprender as figuras geométricas a fazer uma pizza, e a descobrir os planetas com bolas de papel maché. Mas agora sr. Holder, ela não sente mais saudades de aprender em casa. E por muito que eu carregue as saudades desse tempo no peito, a alegria de a saber com alguém que lhe ensina coisas tão ou mais fantásticas, é maior do que tudo.

Obrigada sr. Holder! Obrigada por ser um bom professor! Obrigada por “perder tempo” a motivar a curiosidade dos seus alunos. Obrigada por os ouvir e respeitar o que eles têm para lhe dizer. Obrigada por os fazer rir e rir com eles. 

Melhores cumprimentos da mãe que já foi professora, e da professora que hoje é mãe (e que reconhece o brilho de uma estrela quando a vê brilhar).

PS: Quando virem uma estrela a brilhar, não se esqueçam de lhe agradecer.

Nota sobre a autora

Sofia Isabel Vieira

Autora das Aventuras do Noronha e do projecto Pais com P Grande. 

Crente de que #oamorcuratudo.

Aventureira, sonhadora isceral e arquitecta da minha própria vida. Vivo com propósito e por isso tenho uma necessidade constante de escrever sobre isto.
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