Eu sei que vais aparecer

 

– 3 de Março de 2007 –

Hoje esperei por ti. Não apareceste.

 

– 22 de Março de 2007 –

Todos os dias olho para a porta à espera que apareças. Todos os dias vou àquele sítio não fazer mais nada senão esperar por ti. Não vou ali beber ou comer alguma coisa em particular, como se de algo rotineiro se tratasse. Não. Vou apenas para te esperar. Talvez apareças por estes dias, agora que já chegou a Primavera.

Depois de tantos dias já me começaram a perguntar, inevitavelmente, o que faço ali. Tínhamos marcado um encontro naquele sítio, aquela hora e tu não ainda apareceste. Espero por ti uma hora e depois vou. Não és rapariga de te atrasar. Não chegarias uma hora depois do previsto. E de que vale a espera? Porque não substituí-la por uma mensagem que mais facilmente chegará ao seu destino? Não. Tem de ser assim. É uma questão de confiança. Eu sei que vais aparecer.

Apesar de só lá estar uma hora, todos os dias são feitos para te esperar. Imagino intensamente como será quando chegares. Imagino intensamente como estarás quando chegares. Serás, afinal, tão impossível como a ideia do quinto império? Serás, alguma vez, naquele local?

Um tolo sabe que é tolo como quem espera sabe a razão da espera. E que digo aos meus amigos que me perguntam o que faço, onde estou todos os dias às 15h? Que estou a existir. Que estou a tentar não ser escasso nos meus objetivos. Que vale tanto a pena estar ali como vale a um pintor acordar para pintar a sua obra prima. Demorasse um mês ou a vida toda.

 – 5 de Abril de 2007 –

Hoje foi o primeiro dia em que não te esperei. Entramos no mês de Abril e sei que nos iríamos encontrar em Março. Nestes primeiros dias de Abril já só lá fui por mera fé sebastiana.

 – 6 de Abril de 2007 –

Quando cheguei a casa, no caixote do meu quarto, estava um papel arrancado de uma agenda onde se lia: “Encontro com a Maria dia 2 de Março. Não esquecer.”

 

Nota sobre o autor

Emanuel Silva. 25 anos.

Técnico de gestão do conhecimento.

Escrevo pela companhia que as palavras representam. Para evitar a solidão e poder partilhar numa folha branca o que bem entendo. Escrevo para abraçar o Mundo sem ter de o tocar. Escrevo porque sou humano.

[email protected]

Partilhe nas Redes Sociais
FacebookTwitterPinterest