Eu e tu

Areia fina, quase branca como uma esponja que absorve o sol e reflete o calor que fere. Mesmo assim resisto sem óculos de sol porque deitada não tenho posição nem energia para rodar. Repouso embalada pela visão de um deserto cortado por fita azul ondulada pela refração. Porque as ondas também estão de férias, uma miragem confortável que paralisa… Sinto um toque… Não… Um impacto, súbito!… Gélido… E outro…Atacada sem tréguas por gotas que despertam na epiderme e propagam um arrepio agradável… Rendida… Derrotada… Esboço um sorriso… Erro de amadora. Baixei a guarda e tu atacas sem piedade… Agitas o cabelo e fico encurralada pela tempestade tropical, húmida e quente, à mercê do furacão que cai sobre o meu corpo como um mergulho no mar. A pele quente e submissa aceita sem resistência o contacto refrescante e salgado.. Deixam-se tocar as mãos cada centímetro de calor que me resta, como uma pintura invisível e sensual. Desejas aquecer o corpo. Talvez refrescar-me, mas o resultado é cruel, fico excitada. A pele molhada lembra-me momentos transpirados, pela paixão, e ali, no deserto tórrido daquela praia, não posso desapertar a volúpia do que tenho vestido e beber da tua pele salgada os suspiros gemidos de prazer…

E sussurras ao ouvido: quero confortar-te a alma, descansar-te o corpo, aquecer-te o coração com tudo o que mereces e te quero dar… Quero ver-te e fazer-te feliz, no teu estado natural e beijar-te até adormeceres! (Digno de um emoji com corações)!! Com toda a tua energia dás-me aquele beijo, um simples beijo… Um só… E fico presa… Ligada, unida numa força invisível impossível de ignorar e de romper… É tudo um sonho louco e apaixonado, o melhor sonho da minha existência… Algo tão perfeito e intenso não parece real… Mas existes.

Fiquei com a respiração suspensa ou talvez respirei superficialmente.
Olhei distante para um canto imaginário do quarto pouco iluminado, esperava um toque., um beijo com a ansiedade reprimida do primeiro beijo. Era um delicado castelo de cartas pronto a desmoronar com o suspiro mais superficial.
Toco com uma precisão inesperadamente simétrica nos antebraços e sinto a pele suavizar com o súbito acordar de cada folículo. Uma corrente vital denuncia a respiração, agora amplamente visível, como que a pedir-me que olhe demoradamente para o decote… Demoro-me… Desconfortável. Tentas refugiar-te num outro canto, olhas agora para a estátua do Buda como quem procura algo perdido que tem de ser encontrado… Os meus dedos deslizam pelos braços até encontrar as alças do vestido descrevendo uma queda sem retorno na pele despida até à cintura. Detenho-me ali, chegado ao destino e, sem hesitar, colido com teu corpo tenso… soltas um suspiro, um gemido. Sem fuga possível, olhas-me nos olhos, pedes- me com a voz desobedientemente baixa para te Amar. No mesmo segundo os meus lábios tocam os teus e o abraço forte impede a separação.
Os próximos segundos… minutos… horas são confusos, sem continuidade, o tempo fica perdido, o espaço fica virtual e só existimos nós, um momento cósmico sem adjetivos, vazio de tudo o que nos rodeia, indiferentes à roupa espalhada, à orientação da cama ou dos lençóis, à luz ou ausência dela, à música ou à falta dela… Indiferentes a tudo, porque naquele momento só existes Tu.

Nota sobre a autora: 

Chamo-me Joana. Tenho 40 anos e sou muitas coisas… filha, irmã, enfermeira, formadora…mas a mais difícil de todas… sou Mãe, Boadrasta e Mulher. Escrevo para libertar o que me vai cá dentro…

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1 comentário em “Eu e tu

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