Estranho mundo novo

Atravessa a avenida mais movimentada da cidade. Está abandonada ao silêncio dos novos tempos. A avenida, não se sente abandonada tem os seus tímidos habitantes a adornarem-na. Ganha uma nova vida. Ganha novos contornos. No meio do asfalto dois pássaros deambulam a exploraram o que os rodeia. Têm cores vibrantes, novas e refrescantes que dão um colorido ao silêncio destes dias.

Nesse instante, ela sente-se um fantasma, a representação de um tempo, que não pertence ao momento presente. Uma intrusa.  Sente necessidade de fazer pezinhos de lã. Não fossem as sapatilhas acordar a cidade e quebrar a magia do que estava a viver.

Deteve-se.

Olhou em volta e percebeu que nada à sua volta estava suspenso, como ela imaginava. Tudo fluía. Encerrou-se um ciclo iniciando-se logo depois o novo ciclo. Com toda a naturalidade. Pensou na sua arrogância de julgar que tudo, por força das circunstâncias, se suspendia. Não, pelo contrário, tudo se alinha, mesmo quando julgamos tudo desalinhado. Aquela avenida, silenciosa, era prova disso mesmo. A avenida estava no sítio certo, ladeada de flores resistentes, e intensas. De pássaros que sempre por ali andaram, mas que nunca tiveram a liberdade de pisar a avenida.

Ela, que sempre calcorreou a avenida, apercebeu-se da sua mesquinhez. De a fazer todos os dias, com arrogância de quem a pode esventrar com o passo acelerado, sem se dar conta que a avenida sempre tivera a sua vida própria. A avenida nunca ali estivera apenas para a servir. Sempre ali estivera para colher ciclos, para servir de passagem.

Que maravilhoso mundo é este, onde o asfalto fica sem o cheiro a pneu queimado e ganha cheiro de primavera. Fica sem o ruído de um bando de arrogantes que têm toda a pressa do mundo e aceleram furiosamente os seus motores, e ganha o doce canto dos pássaros.

É um estranho mundo novo que se ergue. A vida lá fora continua na sua plenitude com toda a liberdade do mundo. Arriscou mais um pensamento arrogante estará a ajeitar o mundo para nós? E nós quando voltarmos a pisar a avenida apenas queremos que ela se estenda para nós para nos dar passagem ou vamos ter a humildade de reconhecer o verdadeiro valor da avenida?

Este estranho mundo novo vai fazer-nos olhar à nossa volta?

Nota sobre a autora

O meu nome é Inês Pina.

Sou uma marrona que não gosta de estudar, uma preguiçosa trabalhadora e uma fala-barato solitária.

Partilhe nas Redes Sociais
FacebookTwitterPinterest

Deixe uma resposta

* Campos obrigatórios