Era uma vez uma menina que queria muito ser feliz

Era uma vez uma menina que queria muito ser feliz. Desejava brincar com todas as pessoas, fossem crianças ou adultos. Tinha a ambição de dançar todas as músicas e descobrir todas as cores do arco-íris. Pensava em campos cheios de flores e imaginava dias nos quais o sol brilhava e contagiava toda a gente com a sua energia quente. Havia quem lhe dissesse que sonhava demasiado, que a vida não era assim. Ela foi crescendo a esforçar-se para, um dia, conseguir chegar àquela felicidade com que tanto sonhava, mas dentro de si — na sua cabeça, no seu coração, nas suas veias, nos seus músculos, em cada órgão do lado de dentro da sua pele — havia algo que a impedia de conseguir ver mais do que o preto e o cinzento e de sentir mais do que um céu sempre nublado. Vivia numa luta constante, só conhecida por ela, entre o que o corpo sentia e o sonho lhe mostrava. Aos poucos, foi-se apercebendo da falta de alegria dos desenhos, da ausência de entusiasmo, da tristeza a ganhar terreno. Estava lá, dentro dela, não foi uma escolha, uma decisão. Foi a vida e o corpo. O sonho foi perdendo nitidez e as nuvens foram-se adensando. Ela foi percebendo que todos os dias do resto da vida teria de lutar para se manter à tona, de se esforçar por procurar um raio de sol, por ínfima que fosse a luz. E há dias em que tudo lhe custa muito. Sair da cama é difícil, qualquer conversa lhe dói, encarar o dia revela-se uma prova de obstáculos. Sente-se perdida e incompreendida. Descobriu cedo que é muito importante que se assinale o Dia Mundial da Saúde Mental. Descobriu cedo que esse é apenas mais um dia da sua vida. Mais um dia no qual não pode desprezar o que sente, as vozes que ouve, os impulsos que tem. Descobriu cedo que há muita gente como ela. Neste dia, e em todos os outros, só temos de nos lembrar dela. E de cada um de nós.

Xavier Baltazar Pereira 

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