Diário de uma Enfermeira quarentona em tempos de pandemia: Parte XIII

Dia de Natal.

Dia de Natal Pandémico.

Não beijei os meus pais,

O abraço à minha irmã ficou para outras núpcias,

Dar colo ao meu sobrinho só em sonhos,

Só tenho as vozes dos cunhados e cunhadas e do sogro e da sogra presos no telemóvel.

Despeço-me delas e dele.

Queria ficar nesta noite.

A casa está quente e as luzes de Natal acesas a iluminar-me.

Não quero ir.

Mas vou.

Tenho um pé já fora de casa e a mais velha chama-me.

Entrega-me mais uma carta.

Pede para ler quando estiver sozinha. Coloco-a na carteira e saio.

São 5 da manhã.

Ainda são 5 da manhã.

Cansaço.

No dia do nascimento dois partiram.

Lembro-me do papel.

Tiro-o da carteira e vou à casa de banho.

E lá abro a melhor prenda de sempre!

“Querida mãe,

Estou a enviar-te esta carta para te agradecer por tudo o que fizeste por mim e para te desejar um Feliz Natal!

Obrigada por seres essa pessoa incrível!

Tenho muita sorte em ser tua filha!

Tenho muito orgulho em dizer que sou tua filha!

Tenho muita sorte em ter uma mãe tão linda, tão feliz, com o sorriso mais bonito e iluminado do mundo!

Obrigada por me apoiares sempre, obrigada por seres a minha melhor amiga! Obrigada por estares sempre do meu lado e me teres criado sempre como uma prioridade…

Obrigada por cada momento, por cada abraço, por cada beijo…

Obrigada por poder sempre contar contigo.

Este ano conheci a mulher mais corajosa deste mundo!

Uma mulher loira, com apenas 41 anos e com 2 filhas. Essa senhora decidiu largar a sua casa, as suas 2 filhas para salvar a vida das outras pessoas colocando em risco a sua própria!

 Apesar de falar destas coisas tristes estou só a ser realista. Mãe, em abril quando nos disseste que ias trabalhar para os Cuidados Intensivos Covid foi a maior angústia que, tanto eu, quanto a Inês sentimos… Eu só pensava no pior mas tu foste forte e conseguiste carregar todas as coisas que podiam acontecer nas tuas próprias costas e tu mãe… tu… mereces o mundo e muito mais!

E fica sabendo que és a melhor pessoa que eu algum dia podia conhecer!

Obrigada por seres quem és e quero que saibas que és a pessoa que eu mais amo.                                                                                                                    

KIKA”

Nota sobre a autora: 

Chamo-me Joana. Tenho 40 anos e sou muitas coisas… filha, irmã, enfermeira, formadora…mas a mais difícil de todas… sou Mãe, Boadrasta e Mulher. Escrevo para libertar o que me vai cá dentro…

 

 

 

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5 comentários em “Diário de uma Enfermeira quarentona em tempos de pandemia: Parte XIII

  1. BRUTAL!!!
    Vejo que a Kika herdou a escrita da mãe ?
    Lindo texto e linda carta
    Parabéns minhas flores lindas
    Fiquei comovida …
    Resumo isto numa só palavra :
    AMOR ❤
    BEIJINHOS E BOM ANO

  2. Como comentar esta publicação?As lágrimas caem,o coração está apertado,e a voz embargada pela emoção só pode dizer baixinho: Muito,muito obrigada!

  3. Os teus pais não tem palavras para expressar aquilo que te vai na alma juntamente com as nossas Netas queridas.
    Está pandemia veio nos separar habituados que estávamos estar presencialmente juntos tudo se acabou por enquanto parece que fugimos um dos outros tenho comentado diversas vezes com a mãe mas enfim compreendemos perfeitamente
    Temos um enorme ?? orgulho em ti como sempre podes contar com País tu bem sabes assim como as tuas filhotes que não deixam também de serem o nosso orgulho assim como o Guga
    Lemos com muita imoçao a carta que a Kika te escreveu é duma grandeza que nos fez vir a lágrima ao canto do olho que bem que ela esteve para ela um beijinho ?? enorme dos avós
    Para ti ❤️? grande mãe lutadora Profissional que és recebe daqueles que te amam que são os teus Pais
    Um ? beijinho enorme

    Cuida te Filha

  4. Lindo?…que orgulho da Kika, que conheci tão pequenina e como o tempo voa. E o valor que lhe dou Joana é enorme…aliás a kika diz tudo…?❤️❤️❤️❤️?????

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