Dar de Beber a Quem (Ainda) Não Tem Sede

“- Costuma beber água durante o dia?

– Ui doutor, não… Eu nunca tenho sede!”

Não é um diálogo de filme, mas a verdade é que é quase um filme desmistificar este tipo de afirmação. Frequentemente, na consulta, deparamo-nos com a necessidade de alertar para uma ingestão hídrica mais eficaz, mas o verdadeiro balde de água fria chega quando comprovamos a dificuldade em fazê-lo.

Água Perdida, Água ingerida

Imagino que saiba que a água é o principal constituinte do nosso organismo e que a perdemos diariamente – seja pela transpiração, pela urina, pelas fezes ou até mesmo pelo simples ato de respirar. No entanto, confesse, raramente pensa que essas perdas precisam de ser repostas regularmente, certo? Mas é mesmo verdade. Diz-se na gíria “rei morto, rei posto” e o ditado aplica-se perfeitamente à rainha dos nutrientes: devemos repô-la mesmo antes de darmos por falta dela.

É exatamente por isso que não deve esperar por ter sede para ingerir água! Sabia disso? Não? Eu explico: esta sensação de sede é já uma espécie de pedido de ajuda por parte do nosso organismo, resultado de uma desidratação que necessita rapidamente de ser contrariada, uma vez que a quantidade de líquidos existente dentro e fora das nossas células nesse momento parece não ser suficiente para assegurar o nosso normal funcionamento.

Aprenda a Ler os Sinais

Somos uma máquina tão bem oleada que, quase sempre, basta que estejamos atentos ao que vemos e sentimos para percebermos facilmente o que está a acontecer dentro de nós (quase filosófico, mas verdadeiro!). Para além da sensação de sede, sinais como uma urina de cor ou cheiro intenso, cansaço, dor de cabeça, dificuldades de concentração e memória podem mesmo significar desidratação. Evite-os, reforçando a ingestão de líquidos.

Para isso, saiba que nem só de água vive a hidratação: chás, infusões, leite, néctares e até mesmo sopas, saladas e fruta são excelentes opções para aumentar o aporte de água para o nosso corpo. Acima de tudo, faça uma escolha de fontes de hidratação que se ajuste a uma alimentação adaptada às suas necessidades, gostos e preocupações, para que lhe seja mais fácil e prazeroso criar este hábito – até porque, sendo adulto/a, precisa de ingerir 1,5 a 2L de líquidos por dia, por isso, é bom que o faça de uma forma que lhe saiba bem!

À Sua!

Agora que já percebeu a importância de evitar essa sensação, deixo-lhe um último conselho: “divida o bem pelas aldeias” – opte por beber pequenas quantidades de cada vez e frequentemente ao longo do dia. Custa menos e é mais eficaz.

Nota sobre o autor

Francisco Santos Coelho, 28 anos de idade. Entusiasta pelo trabalho com e para os outros, sou atualmente Médico a fazer a formação específica em Medicina Geral e Familiar – aquela que, para mim, representa o expoente máximo dessa interação e dedicação. Considero-me um “médico para lá da bata”, envolvido por vários complementos a esta arte que escolhi para a minha vida e que me enriquecem de forma inquestionável dentro e fora do seu exercício. Acredito verdadeira e entusiasticamente no lema da casa em que me formei e que defende que “um médico que só sabe Medicina nem Medicina sabe” (Letamendi).

Nascido, crescido e pré-graduado na cidade de Penafiel, foi dela que parti depois para todas as outras onde aprendi e vivi muitas experiências que tanto me acrescentaram. Tenho encontrado a certeza de que devemos ser e saber mais para o mundo, mas que só o conseguimos quando somos e sabemos mais sobre nós mesmos. É o maior desafio de todos. É o que procuro.

Ah! Porquê a escrita? Eu explico. Na Medicina, porque é uma forma ainda eficaz de esclarecer dúvidas, desfazer mitos e (in)formar efetivamente em saúde – e falo de saúde como um processo partilhado e participado de ambas as partes. Fora da Medicina, porque escrever é quase-eternizar, é acrescentar som ao silêncio, ainda que o silêncio, sabiamente, não deixe de se fazer ouvir.

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