Dançando com a memória do meu fantasma

Naquela quente noite de verão o fantasma veio até mim. Já velho, o conhecido falou-me. Dentre as memórias de atirar para o chão o cetim, das danças envolta da chama outrora acesa, disse-me, sem falar, fechando os olhos e mexendo a cabeça.

Mexeu-a como quem diz vem, como quem diz vem comigo por aí. Vem comigo sem pensar, vem comigo por ser eu quem está aqui. Sei que não és um bom bailarino, nem sequer a minha melhor aliança mas, vem daí comigo, vem e dança.

Aceitei, pasmo, o convite para dançar. Dançamos por entre as memórias apagadas, dos sorrisos chorados às lágrimas risíveis, por entre duros toques molhados, a gosto, com o que nos convém, e pelos mais suaves toques secos, trocados por ninguém.

Viajamos pela dança das memórias, por entre estas e muitas mais, porém, os passos mais difíceis desta dança foram as memórias tais.

Tais aquelas que ainda marcam, aquelas que já havia rezado por bis, tais aquelas que perfuram a alma, deixando nela a mais profunda cicatriz.

Ao final da dança, já cansados, a sorrir, deixamos a universalidade de quaisquer seres que existam pasma. Traí o meu mundo, os meus valores e traí-me a mim, dançando, desajeitadamente, com a memória do meu fantasma.

Nota sobre o autor:

Sou o Rui Antunes, tenho 20 anos e sou estudante, de licenciatura, em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A minha paixão pela escrita vem do Hip-Hop, mais concretamente do RAP. Enquanto fui crescendo, foi crescendo também em mim uma necessidade de expressar os meus sentimentos de uma maneira que não fosse imediatamente decifrável, é como se gritasse tudo aquilo que sinto mas, sem que ninguém o consiga compreender na sua totalidade numa primeira leitura. Escrevo sobre aquilo que sinto e vivo, inspirado pelo ritmo e poesia que toca nos meus ouvidos.

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2 comentários em “Dançando com a memória do meu fantasma

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